Resenhas - Inteligência Artificial

Tuca 28/08/2018

O que nos faz humanos? E a partir de que momento deixamos-nos de sê-lo? Pedaços inanimados, tecnologia, ciência materializada, poderia a artificialização do ser humano mexer com sua consciência? No conto distópico "Inteligência Artificial", o/a leitor/a é lançado/a em uma sociedade formada por seres que não sabemos até que ponto continuam humanos, tendo sido gradativamente anexados com mecanismos tecnológicos, os quais de alguma maneira influenciam seu modo de pensar. Minha dificuldade com a história foi não conseguir discernir essa miscigenação de partes e como elas afetam os "cidadãos"? Todos têm as mesmas partes substituídas? Como isso aconteceu? O histórico em si daquela comunidade é muito superficialmente mencionado, o que é compreensível para um conto, entretanto quase não há uma apresentação de mundo, isso prejudicou um pouco a leitura para mim, passando a sensação de ser estruturalmente dividido entre um desenvolvimento e uma conclusão, pulando o início. O interessante é que muita das perguntas que não foram respondidas funcionam como um anzol reflexivo e crítico para um bom debate sobre o mundo em que vivemos hoje. Esse seria um ótimo conto para análise em sala de aula, seja em termos filosóficos, sociólogos, literários, éticos-morais ou comparativos históricos. Até que ponto a roda histórica gira e nos deixa em situações repetitivas. Se não apreendemos, continuamos repetindo erros absurdos. O que pode ser considerado defeito para alguns, não o seria para outros. A quem cabe julgar o padrão social que os indivíduos de uma comunidade devem se encaixar, quem o construiu e a quem ele serve? Se a essência humana pode ou não ser afetada por uma inteligência artificial é uma dúvida que acredito durará por décadas ainda, e em "Inteligência Artificial" tem-se solo fértil para pensarmos sobre isso. Mas talvez o problema não seja sobre o que se é acrescentado, e sim sobre o que se faz necessário ser extraído para que aquela inteligência artificial seja implantada, o que me lembra uma entrevista de Valter Hugo Mãe em que menciona que o título de seu livro "a desumanização" tem raiz no fato de que talvez seja preciso sermos menos humanos pra continuarmos humanos, precisamos ser menos sensíveis. Será? Ou será que, quer seja em um universo distópico, quer seja no momento histórico em que vivemos identificamos mais a humanidade por seu distanciamento emocional, por sua capacidade de enfrentamento do que por sua inteligência social, sua empatia? O que nos faz humanos é a carne, a consciência, a sensibilidade ou nossa capacidade de se enxergar no outro?
Este é um conto muito mais sobre perguntas do que respostas, porém os questionamentos tendem a ser bem mais importantes do que as certezas.

site: IG: https://www.instagram.com/tracinhadelivros/

Gabi Moreira 29/03/2018

Inteligência Artificial até quando?
O conto de ficção científica Inteligência Artificial retrata a revolta de um ser em meio ao mundo distópico criado pela autora @dsdmello, sendo este uma voz de resistência contra a realidade opressora. O dissidente do sistema expõe como a sociedade permitiu que o avanço da tecnologia os tornasse menos humanos e mais facilmente manipulados. Ao lermos, nos identificamos com a realidade atual e vemos o grande defeito cometido por eles (e por nós). Por falar nisso, defeito foi o tema do concurso de escrita no Wattpad, Café com Letra, que originou a criação do conto.
Apesar de pequeno, permite reflexões profundas e nos surpreende como defeito é algo relativo dependendo de qual personagem escolhemos como referência. O término do conto, com um final impactante, faz com que repensemos a nossa maneira de agir. Duvido que, depois de olhar o ponto final, você não se remexa na cadeira e queira fazer algo diferente hoje para não chegarmos a um amanhã como o retratado em Inteligência Artificial.