A arte dos quimonos

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A arte dos quimonos


e as Gravuras Japonesas do Acervo Artístico dos Palácios




O Palácio dos Bandeirantes apresenta a exposição A Arte do Quimono e as Gravuras Japonesas do Acervo Artístico dos Palácios, que reúne uma seleção de raras vestimentas típicas do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, parceiro nesta realização.
A coleção de 30 gravuras produzidas no Japão, no século XIX, pertencente ao Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo também integra a mostra. Denominadas ukiyo-e, as gravuras refletem a estética do mundo flutuante associada à prosperidade da cultura urbana nipônica no período Edo (1600-1867), envolvendo o processo de impressão sobre papel de palha de arroz em xilogravura. A temática aborda o teatro kabuki, os guerreiros e as mulheres de entretenimento, também conhecidas como figuras bonitas. O quimono é retratado constantemente, revelando o requinte das técnicas de tessitura, tingimento e tecelagem e o significado que desempenha perante as relações sociais. A imagem dos quimonos é, portanto, a ponte que integra as duas coleções.
Os ukiyo-e dos Palácios passaram a ser estudados no fim de 2012, pelo Comitê de Pesquisa da Curadoria do Acervo dos Palácios, objetivando melhor compreensão das obras, em especial o esclarecimento da autoria e data de produção. A partir da análise das composições e de algumas marcas de reconhecimento, como as assinaturas dos artistas e os carimbos dos censores (kiwame), a catalogação vem sendo revista e atualizada. Os estudos têm sido tão reveladores que a Curadoria vislumbra, para 2014, uma publicação dedicada especialmente a essas obras, dentro da Série Cadernos de Pesquisa . A princípio entendidas como gravuras individuais, o estudo já identificou dois trípticos de figuras bonitas e duas partes de um outro tríptico do teatro kabuki, além de uma sequência significativa que resgata a Crônica da Grande Paz (Taiheiki), épico em 12 capítulos escrito por ocasião da unificação do Japão, no século XIV. As demais representam personagens em poses individuais. Todas apresentam escritura cujo conteúdo necessita de tradução para compreensão da narrativa, tratando-se, portanto, de uma leitura preliminar a ser aprofundada com o apoio de consultoria especializada.
Oito estampas correspondem à temática das figuras bonitas, em cortejo ou em momentos específicos – como na preparação da cerimônia do chá –, compreendendo dois trípticos e duas estampas individuais, produzidos entre 1853 e 1857. A autoria é atribuída a Utagawa Kunisada, também conhecido por Toyokuni III, um dos mais populares designers de ukiyo-e do século XIX.
As composições de figuras bonitas estão entre os temas mais abordados, com um forte apelo visual reforçado pelo erotismo implícito. Essas estampas celebram o auge da elegância dessas personagens, que aparecem finamente trajadas e penteadas, e quase sempre servindo às necessidades masculinas. Entretanto, apesar do fascínio que essas mulheres despertavam, houve raras tentativas de identificá-las, figurando, em sua maioria, como anônimas. Tratava-se de representar a imagem feminina em um padrão generalizado de beleza e enquanto objeto de desejo em um mundo de fantasia criado por homens e para homens. Para distingui-las entre si, os artistas dispunham de elementos sutis, como poses, gestos e detalhes dos quimonos.
Cinco estampas correspondem a representações de atores do teatro kabuki, duas delas parte de um tríptico, cuja autoria também é atribuída a Utagawa Kunisada. Essa temática está entre as mais produzidas no período Edo e, posteriormente, na era Meiji, retratando atores famosos ora em poses individuais, ora em atuação. Os atores eram vistos como celebridades, e muitos de seus admiradores colecionavam essas gravuras em álbuns ou as utilizavam para decorar espaços domésticos.
O teatro kabuki norteou a estética das impressões. Percebe-se que, dentre os atributos mais marcantes, destaca-se a pose memorável, a estilização e a expressividade facial alcançada pela maquiagem: a partir de uma base branca, os contornos do nariz, da boca e, sobretudo, dos olhos são pronunciados; conforme o papel, variam os toques de cor e as linhas ao redor da boca e dos olhos, revelando estados emocionais específicos. Para representar um forte caráter masculino, por exemplo, as expressões incluem caretas, olhos apertados ou cruzados. Esses elementos distinguem os personagens, como o jovem amante, a cativante cortesã, o herói corajoso ou o odiado vilão. Ainda que os nomes dos atores e dos protagonistas nem sempre fossem incluídos nas estampas, a pose, o traje e o penteado facilitavam seu reconhecimento, sobretudo pelos fãs; desenhos específicos nos quimonos auxiliavam essa distinção. Os artistas do ukiyo-e conseguiram retratar a emoção do palco.
Outras 17 estampas são alegorias a histórias de guerreiros samurais contadas em verso e imagens, compondo narrativas, temática também bastante abordada. As cenas variam entre retratos individuais de combatentes armados e cenas de batalha. A autoria é atribuída a Utagawa Kuniyoshi, proeminente artista do final do período Edo, particularmente conhecido pelas composições de guerreiros. Gravuras similares foram identificadas no British Museum e na Galerie am Haus Der Kunst, facilitando a catalogação das estampas do Taiheiki. Conclui-se, com essa informação, que se tratam de impressões em série. Entretanto, a tiragem depende de maiores investigações.
A coleção de ukiyo-e do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios foi destacada pela primeira vez na exposição Um Século de Arte, concomitante à III Mostra de Arquitetos e Decoradores – MOAD, realizada em 1996, no Palácio Boa Vista, na cidade de Campos do Jordão. Naquela ocasião, as obras foram dispostas em dois grandes painéis, sem, contudo, contextualizá-las na tradição da gravura japonesa. Em outros dois momentos, foi novamente colocada em evidência: em Templos e Palácios Japoneses: Caminho do Olhar, mostra integrante do Projeto Heranças Culturais , realizada em 2008, no Palácio dos Bandeirantes, por ocasião da comemoração do centenário da imigração japonesa; e em Pioneiros da cerâmica em terras de Cunha: Caminhos e Fronteiras, realizada em 2011, no Palácio do Horto, que estabeleceu um diálogo com as obras dos artistas japoneses estabelecidos em Cunha.
Espera-se, com a presente exposição, ampliar cada vez mais o olhar para a produção cultural de uma nação que apresenta vínculos de amizade significativos com o Brasil, e especialmente com São Paulo, que concentra a maior colônia nipônica fora do Japão. Os ukiyo-e capturam, com sua requintada elaboração, o glamour de uma época e as tradições que se perpetuam ao longo de gerações, resistindo às transformações e aos paradigmas da contemporaneidade.


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