"O poema é uma garrafa de náufrago jogada ao mar. Que a encontra salva-se a si mesmo", decreta Mario Quintana em A cor do invisível. Tais versos expressam o trabalho consistente de Quintana, que soube, sem dúvida, salvar-se. Neste livro, mais uma garrafa encontrada na praia, o poeta perscruta sua memória e seu imaginário, costura cada um de seus poemas com o fio do tempo - reúne, travesso, sonetos de adolescência, rouba pequenos versos de livros anteriores, registra novas versões, surpreende com inéditos extremamente líricos -, e o resultado é um só: uma tessitura lúcida e ingênua, prosaica e metafísica, comprometida com a tradição modernista e livre como um anjo. Revela-se enfim Mario Quintana, que ultrapassa, corajoso, os oitenta anos? Lembramos que os poetas raramente escrevem biografias convencionais, mas deixam-se conhecer por sua obra, o poema, "essa estranha máscara, mais verdadeira do que a própria face".
Poemas, poesias