Uma antologia capaz de oferecer ao leitor brasileiro uma amostragem de uma poesia singular por várias razões, uma das quais, sem dúvida, diga-se logo, é a concretização de uma linguagem de irreverência que, em seus limites, aponta para uma espécie de antipoesia, no sentido em que utilizava o termo o poeta chileno Nicanor Parra (…). Uma antipoesia que não se descola de uma tendência simultânea para a sátira e para o silêncio: ou melhor, para o risco do silêncio ou aquela severa forma do vazio, de que fala João Cabral numa das partes da Psicologia da composição. Creio mesmo que Alberto Pimenta vai ainda mais longe e nesse ir se encontra com uma grande tradição da própria poesia portuguesa, qual seja, a dos cantares de escárnio e maldizer, que sempre ressurge nos melhores momentos da tradição da poesia em língua portuguesa, aí se incluindo a brasileira, desde um Gregório de Matos até um Oswald de Andrade, passando por alguns momentos de estranheza no romantismo de um Álvares de Azevedo, para não mencionar a um Sousândrade e sua crítica cáustica de Wall Street, e a um Pedro Kilkerry e seu devastador anti-simbolismo.
Poemas, poesias