A crítica literária costuma debruçar-se de preferência sobre obras e autores consagrados, ou então sobre os grandes textos clássicos. Em literatura, praticamente inexiste a análise do medíocre. Talvez por isso a Ficção Científica tenha sido tão pouco estudada, já que foi sempre identificada pelos críticos de elite como uma literatura medíocre. Em consequência, os trabalhos publicados sobre esse tipo de narrativa se fundam numa tradição teórica estetizante, incapaz de produzir outra coisa além de juízos apaixonados em torno da boa ou da má qualidade. Este livro procura levantar uma problemática teórica pertinente para a FC, situando-a como um discurso produzido pela indústria cultural, de modo radicalmente distinto da arte literária. A FC não é aqui analisada como uma literatura de má qualidade, mas como uma verdadeira narrativa mítica da urbs tecnológica, engendrada ideologicamente por um Humanismo em crise. Para tanto, o autor lança mão do instrumental da Teoria da Literatura e da Teoria da Comunicação. Muniz Sodré - autor de "A Comunicação do Grotesco", também editado pela Vozes - é professor de Teoria da Informação e da Linguagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Universidade Federal Fluminense.