O enfarte e a internação cortaram o fluxo das palavras habituais. Eram palavras escolhidas a dedo, exatas para descrever o caos
cotidiano da nossa vida de país sem moeda. É preciso ter um estilo apurado para captar as delicadas nuances do perde-e-ganha no embate diário entre uns poucos milhares de ricos e muitos milhões de miseráveis. Os ricos sabem como tirar dinheiro do vento. Os pobres sonham com a escravidão do salário registrado em carteira. Os ricos contratam jovens brilhantes, dão uma mesa e eles e dizem: passe o dia aí, no conforto, pensando em como eu posso ganhar mais dinheiro. Eu escrevia sobre o secreto mecanismo que move o universo: a velha ganância, milenar, eterna. Mas agora estou aqui a escrever abobrinhas que, aparentemente, serão lidas por apenas um leitor: o doutor Tamandaré.
Literatura Brasileira