Os moradores do vilarejo já tinham perdido a fé no homem. Desistiram de chamá-lo caçador. Naquelas bandas, só era digno do título os que fizessem por merecê-lo. O homem passou dez anos caçando o animal, mas a única façanha alcançada foi servir de chacota. Inclinou a cabeça. Fez grande esforço pra evitar que as lágrimas fossem ao chão. Mas um sentimento de fracasso o assaltou por completo. O homem estava vencido. Perdeu pra ele mesmo. Sentiu-se incapaz. Acreditou que a história dos seus familiares-caçadores encerrava ali. Ele era o limite. Os livros de memória não registrariam seus feitos. A lembrança de sua existência seria marcada de vergonha e humilhação. Sua alma entrou em desespero. Não aguentou mais. Chorou copiosamente. Levantou a cabeça apenas quando ouviu um estranho som correndo lentamente por entre as árvores. Era a onça, observando-o com um olhar frio e devastador. O animal soltou um violento esturro e começou correr em sua direção. O homem equilibrou rapidamente a espingarda, e quando ia preparar o gatilho, não precisou concluir a ação...
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