A presença das diretoras

Este livro deriva de uma pesquisa de doutorado em Comunicação defendida em 2015, no Programa de Comunicação da UFPE, intitulada "Corpos visíveis: matéria e performance no cinema de mulheres''. Naquele momento, o debate político com recorte de gênero acerca do lugar das mulheres na indústria do cinema aquecia fagulhas que iriam, posteriormente, incinerar a crítica a partir de iniciativas como #metoo e uma rede de protestos globais no agenciamento das mulheres como realizadoras de filmes. Esta pesquisa vem do interesse em compreender o cinema de mulheres num período em que o reconhecimento da necessidade de suplantar o binarismo de gênero e as hierarquias, por vezes patriarcais, da autoria cinematográfica, haviam desviado a pesquisa feminista sobre cinema dos debates sobre a presença das mulheres. Buscamos, portanto, rever a perspectiva de autoria feminina como um processo de subjetivação política do corpo na obra de realizadoras que utilizam sua presença dentro, como matéria fílmica, relevo e testemunho de um lugar de ver e estar no cinema. Para tanto, empreendemos uma epistemologia estético- política do corpo, mensurando a relação entre mente e corpo como central para a compreensão do lugar da mulher na arte. Posteriormente, observamos as perspectivas de autoria feminina no cinema, situando-as em relação ao status que os corpos em movimento adquirem no regime estético da arte. Por fim, analisamos filmes que trazem a presença fílmica, a performance cinematográfica e a dimensão háptica dos corpos das realizadoras, transitando entre obras de caráter deliberadamente ficcional e outras de viés autobiográfico. Observamos que o corpo vivido emerge tanto como elemento de atração e engendramento de aspectos fílmicos, como o plano e a mise en scène, quanto como evidência política dos processos vitais destas mulheres.

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