Era o grande momento de toda uma vida.
Angélica e o marido, o Conde Joffrey de Peyrac, cercados de toda a sua guarda: os espanhóis, o negro Kuassi-Ba, os oficiais de sua frota, um pelotão de marujos em uniforme branco, entraram na sala do Grão-Conselho, no Castelo Saint-Louis, em Quebec. Lá, diante das maiores autoridades, aguardava-os o governador-geral da Nova França, o Sr. de Frontenac, para leitura das ordens de Luís XIV.
Em meio ao calor sufocante, Angélica, ansiosa, reconheceu sobre a mesa, nas cartas e documentos oficiais, o sinete grosso do Rei-Sol: os anjos da Glória e da Fortuna, sustentando o escudo com três flores-de-lis, encimados por uma coroa e uma cruz. Então, como num sonho, toda sua vida passou-lhe de uma vez diante dos olhos: a infância nos bosques de Poitou, o casamento em Toulouse, os infortúnios de Paris, o segundo casamento com Filipe du Plessis, o exílio no Oriente, as perseguições religiosas, até, enfim, as incríveis aventuras no Novo Mundo.
Naqueles papéis, sua sorte estava lançada. Caso o rei se pronunciasse contra eles, teriam que abandonar para sempre o território francês.
Sim, o rei da França ainda podia fazer-lhes muito mal...
Romance