Araã!

Por meio de uma nova linguagem, Evandro Affonso Ferreira impressionou escritores, leitores e críticos com seu primeiro romance Araã!, e assim teve sua indicação a finalista do Prêmio Jabuti 2004. Nele, conta-se a história de Seleno Selser, um vendedor de enciclopédias, viúvo de 70 anos, que, paralelamente à evolução de seus achaques físicos (efizema, úlcera, artrite, pés inchados etc.) assiste impotente à solidão que cresce ao seu redor, como círculos em volta de seu corpo na água. Quanto mais ele se debate, mais a solidão multiplica seus anéis e se amplia. Sua falecida esposa, Mégara, sua filha e professora de Educação Física, Himália, seu genro dentista, Androgeu, o alfaiate/tintureiro Cestrinho, a vizinha, D. Hepodâmia, seus amigos, Títio e Erimanto, e tantos outros personagens são os elementos externos que ora fornecem consolo temporário ao protagonista, ora lhe renovam as perdas, ora lhe passam a impressão de que o amor pode salvar, ora lhe esfregam na cara as irresgatáveis torpezas da humanidade. Mas, se o enredo parece trágico, e é, os nomes dos personagens já dão uma pista quanto à dose de humor presente no livro. De fato, há humor aqui; um humor que, antes dos dogmas politicamente corretos, chamávamos de humor negro. Num sentido geral, portanto, Araã! é uma tragicomédia.



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