Arranjos produtivos e empoderamento de mulheres do Quilombo Tijuaçu

Arranjos produtivos e empoderamento de mulheres do Quilombo Tijuaçu Maria Aparecida Conceição Nunes


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Arranjos produtivos e empoderamento de mulheres do Quilombo Tijuaçu (01 #01)





Ao ler o trabalho de Cida Nunes sobre etnodesenvolvimento dos arranjos produtivos realizados por mulheres quilombolas em Tijuaçu, estado da Bahia, me encontrei refletindo sobre algumas observações do economista vencedor do Prêmio Nobel, Amartya Sen, em sua obra “Desenvolvimento como Liberdade”: que a pobreza não deve ser encarada apenas como a falta de dinheiro, mas especialmente como a privação de oportunidades e uma sociedade que priva as mulheres de exercerem suas liberdades é uma sociedade que perde a capacidade de construir um futuro melhor para todos e para todas.

Tive a honra de orientar a tese de doutorado de Cida Nunes e a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de sua robusta pesquisa social com 13 comunidades quilombolas pertencentes ao quilombo Tijuaçu, distribuída em três municípios do estado da Bahia: Senhor do Bonfim, Filadélfia e Antônio Gonçalves e com a participação de 313 mulheres com idade entre 18 e 65 anos. Cida Nunes não exitou em abraçar essa pesquisa social contemplando o uso de metodologias mistas para conseguir, minimamente, registrar a dinâmica social dessas comunidades, seja por meio do uso de instrumentos como o WHOQOL BREF para mensurar a qualidade de vida dessas mulheres quilombolas, seja fazendo uso intenso de etnografia para nos legar uma aproximação desse conjunto de experiências e cotidiano dessas mulheres quilombolas. Destaca-se o cuidado da pesquisadora em revelar a ausência de bens e serviços públicos como acesso a água, saneamento básico ou coleta regular de lixo doméstico, por exemplo, que não permitem condições de exercício pleno de suas liberdades e reforçam, ainda mais, o ciclo de pobreza que também alimenta a desigualdade de gênero.

Ao nos convidar a refletir a qualidade de vida dessas mulheres quilombolas, o trabalho de Cida Nunes nos leva a perceber a lógica de organização social com seus arranjos produtivos cooperativos que são impactados pelas dificuldades de acesso a crédito e regularização fundiária (que leva seus membros a buscarem oportunidades de ampliação da renda fora de suas comunidades), o que irá refletir na maior vulnerabilidade não apenas dessas mulheres quilombolas, mas também de suas comunidades, fortemente dependentes de programas de transferência de renda como o Bolsa Família. O trabalho de Cida Nunes reforça a percepção que qualquer forma de desenvolvimento das comunidades implica no empoderamento dessas mulheres quilombolas.

A história pessoal de Cida Nunes é uma história de força de vontade, de amor a educação e a pesquisa social e a existência desse livro revela o profundo respeito que ela tem por essas mulheres quilombolas. E como canta Milton Nascimento em Maria, Maria: “é preciso ter sonho sempre, quem traz na pela essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida”.

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