Percorrer as ruas e becos do São João Batista é como evocar as palavras de Marcel Proust: "Apenas um momento passado? Muito mais, talvez: alguma coisa que, comum ao passado e ao presente, é mais essencial do que ambos."
O texto de Henrique Sérgio fala sobre esse tempo da memória, em complexa tessitura de ligações entre o cemitério e a cidade que o abriga, que o faz existir, dando-lhe volume e sentido. Ao tratar dos desejos, daqueles que se foram e sobretudo dos que permaneceram, o autor discute, no campo da história social da cultura, a complexa relação entre arte e sociedade, aventurando-se pelos meandros que se fizeram nos jogos de poder e prestígio. Com sensibilidade e um largo trabalho de pesquisa, enfoca esse lugar que, antes de ser dos mortos, é daqueles que continuam vivendo. (Francisco Régis Lopes)