Os fins estão nos meios como a árvore na semente”, costumava dizer Mahatma Gandhi, cujos ensinamentos guiaram a trajetória de figuras notáveis do nosso tempo como Martin Luther King Jr, Nelson Mandela e Dalai Lama, que se tornaram seguidores e propagadores da não violência e da cultura de paz. O livro “Autobiografia - Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade”, que a Palas Athena Editora relança em outubro com o apoio financeiro do Ministério da Cultura do Governo da Índia, narra a saga empreendida pelo grande líder indiano, na construção diária desses e de outros conceitos que fundamentam seu pensamento. É surpreendente acompanhar, na voz do próprio Gandhi, todas as dificuldades que enfrentou em sua luta de 40 anos pela independência da Índia. Ele não se furta a confessar seus tropeços, a expor suas fragilidades, envolvendo o leitor nessa fascinante aventura em busca da verdade, em que a coerência entre discurso e ação aparece como principal valor. Mestre dos paradoxos, Gandhi evitava as conclusões simplistas, os reducionismos excludentes, o senso comum que atende oportunismos sem medir consequências. Página por página, o tímido e franzino adolescente Mohandas Gandhi vai acolhendo diferentes visões de mundo, revelando suas perplexidades, vivenciando as variadas experiências intelectuais e religiosas até se transformar no Mahatma Gandhi, o porta-voz daqueles que nunca são ouvidos e, mais tarde, num dos maiores líderes da humanidade. Gandhi nos ensina que é na experiência pessoal que a ética se revela poderosa e transformadora, que é nos desafios cotidianos onde são testadas nossas convicções e nosso caráter. A inspiração que nos legou Gandhi abriu novos horizontes na compreensão do que seja a Paz, convidando-nos a resistir ao círculo vicioso da vingança, a compreender e acolher os diferentes, a criar espaços para o entendimento mútuo e a promover modos de vida que não alimentem o sofrimento.
Os editores apresentam pela primeira vez no Brasil em tradução direta do inglês, a obra de Mohandas K. Gandhi Autobiografia: Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade. Trata-se de mostrar ao público brasileiro uma parte importante - e da mais representativas - da extensa obra escrita desse notável pensador, político e educador indiano
No momento em que questões relativas à ética, à liberdade, aos direitos humanos, e à exclusão social se tornam desafiadoras e, em muitos países, de solução inadiável, abordá-las é uma tarefa que interessa a todos os setores da sociedade. Conceitos como a não violência, por exemplo, são detalhadamente apresentados e fundamentados pelo autor. Ao lado da educação e dos trabalhos comunitários, ela surge como instrumento de primeiríssima necessidade para a definição de novos modos de interação humana.
Por tudo isso a apresentação desta obra atende a uma necessidade básica, em especial se levarmos em conta que o colonialismo - Para cuja abolição Gandhi tanto se empenhou - hoje ressurge sob novas formas e em escala planetária.
Como todo pensamento fundamental, o ideário gandhiano cresce em universalidade e atualidade à medida que os anos passam. Não seria adequado, portanto, procurar inseri-lo em uma determinada escola, contexto ou época. A saga gandhiana é um exemplo luminoso de como a resistência à opressão - que inclui a que opomos a nós mesmos - precisa começar pelo trabalho com o ego e estender-se à coletividade. Esse trabalho inclui uma fundamentação ética precisa e uma disciplina rigorosa, que precisa ser exercida no plano prático, isto é, na lida com as atividades do dia a dia, inclusive - e talvez principalmente - no âmbito da política.
A vida de Gandhi é um eloquente testemunho disso - e também uma pungente demonstração das dificuldades que um projeto desse porte implica. Sua história mostra como o sagrado está presente também no mundo natural e por isso mesmo entre nós - revela como ele faz parte do cotidiano e emerge da convivência pacífica entre pessoas.
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