autobiografia de um homem inventado

eu não sabia que viver doía. não me contaram. nos obrigam a crescer, mas ninguém ensina como. ninguém sabe dizer como aprendeu também. não sabe mas lembra. eu queria ser otimista. mas também queria ser tantas outras coisas. não consegui. "você tem tanta história pra contar, deveria escrever um livro." deveria mesmo. e escrevi. tá aqui. e agora? qual é o próximo passo? uma noite de autógrafos com vinho e convidados que a editora contratou como figurantes? vender dez cópias assinadas pra depois de seis meses ver esse mesmo livro abandonado num sebo de cidade pequena? morrer? dizem que escritor morto é que vende. acho radical demais. não sei o que fazer a partir daqui. não sei como autografar um livro. não sei como escrevi um livro. mas ele tá aqui. e conta uma história. você quer ler? pois então abra e leia. aproveita pra chorar por aqueles motivos que eu não sei quais são, mas que você vai se lembrar. aproveita pra sorrir também, afinal, aqui você vai ver que sua vida pode ter sido uma benção divina se comparada a minha. se apaixone. eu iria querer me apaixonar lendo um livro. odeie. tem tanta história aí que em algum momento, você vai sentir ódio. você é humano. sinta. não é pra isso que nascemos? pra sentir? viva. eu já vivi e tô contando nesse livro. morra. mas saiba porquê está morrendo. ame. eu amei demais. por isso estamos tendo essa conversa. por isso você está segurando este livro. pra isso que existe a eternidade. perdoe. me perdoe pelo que lerá aqui, mas isso é tudo de mim. uma biografia desinteressante de alguém insignificante. pior que isso. uma autobiografia de um homem inventado.

Crônicas