O cenário é a Paris da belle époque. A Paris das garçonnières, dos encontros sorrateiros e passeios em fiacre pelas noites que terminavam nos salões efervescentes da metrópole francesa à época do colonialismo. Uma cidade de oportunidades onde o jovem Georges Duroy, recém-chegado da campanha dos hussardos na Argélia, buscará seu lugar ao sol. Por intermédio de seu ex-companheiro de exército, Forestier, ele ingressará no jornal La Vie Française, mesmo sem qualquer experiência com a escrita, e ali lançará mão de sua beleza e de seu irresistível charme junto às mulheres para galgar, degrau a degrau, a escada do poder. O autor conduz seu charmoso personagem por uma trilha de blefes, chantagens, encontros amorosos furtivos. Enquanto Duroy vai desvendando, com a ajuda de suas amantes, os arcanos do jornalismo e as ligações que seu novo ofício estabelecia com as altas esferas de poder — não encontraria sua esposa nos braços de um ministro? —, o leitor assiste à pintura impiedosa de uma outra Paris, oculta sob o glamour dos salões, onde o tráfico de influências impera e coaduna imprensa, política e poder financeiro. Maupassant, que era influenciado também por Schopenhauer, deixa transparecer no romance todo o pessimismo que foi tendência na literatura da época, sobretudo na naturalista, e não aponta redenção para seu (anti) herói. Não há castigo divino, não há a mão pesada da moral a conter o personagem ou a convertê-lo em exemplo edificante. Charles Duroy é a encarnação do erotismo, um erotismo de bigode, de olhos azuis, que enleia sobretudo as mulheres e não conhece escrúpulos. Um arrivista? Um dândi inconsequente? Para François Mauriac, na essência Duroy é um homem de uma “ignóbil ingenuidade”. Talvez uma mescla de tudo isso, nosso protagonista trafega com desenvoltura, seja nas Folies Bergère, seja nos Champs-Elysées, mais próximos do que se poderia supor.
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