Bom-Crioulo,
a vida na Marinha Imperial
Em 1895, a Tipografia Aldina imprimiu, para o mesmo editor d'A Normalista, o segundo romance de Adolfo Caminha, Bom-Crioulo', considerado a obra-prima do ficcionista cearense, mas sem dúvida o livro de sua autoria que mais haveria de sofrer restrições e ataques, e não somente ao tempo de sua publicação E uma sombria história de marinheiros: Amaro, um escravo fugido, havia sido alistado na Marinha e, quando já marujo experiente, no posto de jeira de proa, conheceu, na corveta em que servia, um grumete alvo e delicado, pelo qual sentiu logo uma irresistível atração.
Logo no primeiro capítulo do romance vemos três marinheiros serem submetidos ao castigo da chibata, sendo um deles, Amaro, o Bom-Crioulo, como o chamavam no navio. Musculoso e ágil, vez por outra o negro armava-se de navalha e, bêbado, promovia memoráveis arruaças para os lados do cais Pharoux.
"O motivo, porém, de sua prisão agora, em alto-mar, a bordo da. corveta, era outro, muito outro: Bom-Crioulo esmurrara desapiedadamente um segunda classe, porque este ousara, 'sem o seu consentimento', maltratar o grumete Aleixo, um belo marinheiro de olhos azuis, muito querido por todos e de quem diziam-se 'cousas." Amaro nas poucas vezes em que havia estado com mulheres "dera péssima cópia de si como homem" e, ao se aproximar do grumete, sentia, como diz o narrador, "uma sede tantálicas de gozos proibidos".
Literatura Estrangeira