Chave de Espadas é o livro de estreia de Camillo José, um próspero começo que revela uma poética original e dona de sua própria identidade, valores que, nem sempre fáceis de serem alcançados, mas deveriam ser sempre os primeiros a serem conquistados por quem se aventure no ofício da poesia. Surpreendem menos as imagens utilizadas e mais a capacidade de compô-las num imaginário muito próprio, que parece buscar um entendimento do mundo e das coisas pela percepção, pelos sentidos. Ao articular o tempo em que vivemos com o tempo mítico e mitológico, o poeta assume a fragilidade das noções lineares. Mas não há confronto, antes, há fluidez, perícia na arte de tramar tempos e forjar novas realidades em dobras que se sobrepõem umas às outras. O poema "Planetário" é representativo desse movimento na poesia de Chave de Espadas: (...) Tua pele fria/é via láctea/e máquina/pneumática/e três marias./Teu corpo/tem cinturões/de órion/e de couro (...). Coloquial sem banalidade, o livro captura formas e sentidos com sofisticação. Uma chave que se multiplica em várias. (Micheliny Verunschk)