Nove meses após a separação, um casal se reencontra em situação inusitada. É dia de trocar a guarda da filha. Ao passar no antigo apartamento para deixá-la com a ex-mulher, o homem pede para tomar um banho. A fralda da menina havia vazado no caminho e o compromisso posterior exigia um mínimo de asseio. O diálogo entre os dois, com curtas interferências da criança, vai desnudar antigas mágoas. E lembrar que a desforra por vezes é lenta, mas gradual.
“– Me cheira?
O pedido veio assim, intempestivo.
– Me cheira? – insistiu.
A sala estava abafada, o sol da tarde ainda ardia nas paredes do apartamento. Ele mal acabara de sair do banho. Esfregava a toalha no cabelo ainda úmido, os pés desenhando no piso de tábua corrida uma trilha de pequenas poças d’água.
– Como assim cheirar você?
– É simples. Encosta o nariz no meu pescoço e aspira. Depois, a roupa. (...)”
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