Cinema ou Sardinha

Cinema ou Sardinha Guillermo Cabrera Infante


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Cinema ou Sardinha #3


3 - E a aventura continua




O cubano Guillermo Cabrera Infante nunca teve dúvidas quando sua mãe perguntava na infância se ele preferia ir ao cinema ou comer sardinha. A fome pelos filmes sempre foi maior e o levou a se tornar um dos mais celebrados escritor, roteirista e crítico de cinema do mundo. Toda a paixão de Cabrera pela sétima arte pode ser conferida na terceira parte de Cinema ou Sardinha, que ganha o subtítulo de E a aventura continua, e está sendo lançado pela Gryphus Editora.

Dando continuidade às duas primeiras partes, este livro é uma verdadeira aula, onde o autor transportou para o papel todos os pensamentos sobre o cinema, num processo, na maior parte das vezes, inverso ao do que costuma acontecer. É o cinema inspirando a literatura.

Nas páginas da coletânea, está reunido o melhor de Cabrera Infante, um memorialista, fã de filmes, capaz de misturar vida e ficção com um olhar, às vezes suave, sempre irônico, de alguém que não concebe um mundo sem cinema. Com capítulos curtos e tradução de Gilson B. Soares, o autor lembra com bom humor das principais personagens do cinema, reunindo histórias memoráveis de nomes como Groucho Marx, Brian de Palma, James Mason, William Holden, Hitchcock, James Cameron, Harrison Ford e Sharon Stone, tanto dentro quanto fora das telas.

Alguns trechos do livro:

Agora, em Blade Runner, a China já está entre nós: a cidade do futuro é a Pequim do passado. É a cidade de todos os anjos caídos: do céu ao inferno. Los Angeles abriga Hollywood, que sempre abrigou Los Angeles. Mas no ano 2019 é uma enorme urbe letal: Los Angeles é Los Angeles Infernales. Na cidade que virá (Los Angeles é uma das cidades mais secas do hemisfério), chove eternamente uma chuva ácida, espessa, quase viscosa: do céu conquistado cai constantemente uma água, como a que assombrou Gordon Pym, que se pode cortar com uma faca e vê-la separar-se em estrias estreitas. Agora essa metrópole é a Meca do futuro, repleta de edifícios de altura vertiginosa, pirâmides que descem do céu a prumo, como a chuva. Mas todas as torres altivas se encontram arruinadas, apodrecidas e abandonadas à erosão, como a babel indigente de cinco continentes e sete mares que se agita abaixo e fala desesperanto, impenetrável mescla de inglês, espanhol, chinês, japonês e surpresa! o holandês errante, errando ainda mais essa língua franca e frenética: dez dialetos que alteram a língua.

Veludo azul, de David Lynch, é a vida, paixão e morte de Frank Booth, o sádico do sábado. Coração selvagem é a fuga das vozes do amor, do desejo e da morte. Se Faulkner, como disse Nabokov, não é mais que um Victor Hugo no Deep South, onde Esmeralda se casa com pai Tomás e todos vivem infelizes pelo duplo racismo (jovem cigana ama preto velho), Coração selvagem é uma espécie de Luz de agosto em que Joe Christmas não parece húngaro, mas é sim italiano e sua violência tem a febre funesta da Máfia. David Lynch, é preciso dizer de uma vez por todas, é o Faulkner dos anos 90: Gothic horror, horror show, que se pronuncia, como em russo, rarachô tudo está bem porque bem termina.



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