A iluminação de Lilith dá-se aos poucos, numa alusão ao desenvolvimento infantil do ponto de vista freudiano. Primeiro, o desespero ao sair da água, o acalento nos peitos de quem confia, o prazer oral pelo alimento, e, por fim, o prazer sexual.
O desespero ao sair da água é o nascimento. A personagem, em meio a medos e indecisões, vê-se forçada a sair da água: irá para o mundo real.
Imediatamente após o nascimento, é confrontada com as primeiras sensações, que lhe causam pânico: tal qual o bebê que, ao nascer, sente seus pulmões se encherem de ar. Está livre do ventre, mas não tem o mesmo conforto de antes.
Assim como um bebê, ela só se acalenta após ir para os braços daquele que a acompanhava, é nos peitos que sente conforto, mas a ligação já é outra, e agora precisa descobrir coisas novas.
O medo se une à curiosidade. A primeira forma de encontrar prazer é pela estimulação oral, o alimento. Mas, aos poucos, já não é o suficiente.
Como uma criança, inicialmente ela não tem pudores, está se descobrindo e descobrindo tudo o que a cerca, o ambiente e o outro.
Após isso, começam as descobertas do próprio corpo. Como uma adolescente, sente prazeres onde antes era impensável. O pudor por fim surge, e um novo rio deve ser atravessado para um novo nascimento: o abandono dos antigos laços, que, mesmo suprindo as necessidades, já não eram tudo que ela queria.
Do outro lado do rio, renascida, ela pode adquirir a sabedoria do mundo, vivenciar os prazeres carnais e os temores que não era capaz de entender.
(Da resenha escrita por Anderson Rodrigues)
Fantasia