omprimidos e acossados, os minúsculos contos aqui incontidos em pílulas evidenciam a opressão, a angústia e a exploração, nesta quase sempre mortificante atividade diária que é o trabalho estranhado. O trabalho que não recompensa: “morreu sem ter quitado o último mês do aluguel”, “vai pra casa estudar, filho”. O trabalho que não é contemplação: “acelera como quem vai comprar pão correndo na sarjeta”. Traços tristes e muito comuns do cotidiano das pessoas: garçons, desempregados, prostitutas, pintores, escravos de canaviais, toda a massa que dá forma à classe trabalhadora, e que no mundo habita uma gaiola menor ou maior. Mas há graça, há ironia nas cem cápsulas contra o sofrimento, a alienação, o suicídio. Uma lousa de papel para ler o cotidiano desses que não são proprietários e que constroem o paradoxo do trabalhar para viver e não viver, mas trabalhar. Odair é professor que trabalha também nos intervalos.
Cauê Borges, escritor, ex-operário. Autor de “Contos de Trabalho, Capital e Cotidiano”
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