Duas Praças

Duas Praças Ricardo Lísias


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Duas Praças





O livro é constituído por 90 capítulos breves, à exceção do capítulo 50, um longo fluxo de pensamento de uma personagem. Inicialmente, duas narrativas são apresentadas, o que o leitor só perceberá no capítulo 11. Os dez primeiros capítulos iniciam a narrativa sobre Maria. Os dez seguintes, sobre Marita. E assim sucessivamente, até os capítulos 71 a 80, que concluem a história de Marita, e os capítulos 81 a 90, que encerram a de Maria. Mas não apenas, pois o autor guarda seus trunfos na manga. Antes, vamos esmiuçar as estórias principais, de Maria e Marita, duas trajetórias talvez paralelas, talvez perpendiculares, certamente partes de um mesmo mapa. A vida de Maria, uma mulher comum, é contada até a sua mesquinha morte. A narrativa explora as possibilidades alienantes envolvidas nas ações, pensamentos e desejos cotidianos de uma mulher de classe média baixa. A teia de seus recalques e preconceitos enredando-se com sua biografia, apresentada aos saltos, é bem constituída a partir de um estratagema em crescendo - elipse do senso comum. A obviedade de um destino como o de Maria é de tal ordem que o próprio discurso pode enunciar-se aos cacos, pois o leitor completará com o esperado aquilo que estiver faltando nas sentenças e na biografia, o que resulta num jogo cômico de antecipações e prospecções. Maria é também apresentada em seu fluxo de pensamentos e atos e pode ser mais desconexa, e a narrativa explora outras regiões. A fenda entre futuro almejado e resultado obtido materializa-se também no próprio texto através da ordenação caótica final do destino da protagonista. A investigação do desaparecimento de Marita, argentina estudante no Brasil, é a segunda estória que ainda continua insolucionada. Um estudante da pós-graduação tenta de todos os modos encontrar Marita, talvez filha de pais argentinos mortos pela ditadura de lá. E registra por escrito não só os kafkianos passos burocráticos que deu para tentar resolver o enigma, como seus encontros com professores, funcionários e dirigentes universitários, oferecendo ao leitor uma imagem de parte do mundo acadêmico, com tudo o que pode comportar de frivolidade intelectual, inveja pessoal, luta pelo prestígio e ganância pelo poder. Formas de discurso bem diferentes, relativas a ambientes socioculturais distintos, que confluem, contudo, para um ponto de fuga; o da ironia com que são considerados os destinos e a fatuidade que os orienta. Maria e Marita podem ter se cruzado numa rua de São Paulo. Marita, no limite, pode ser Maria, e as narrativas se articulariam descompassadas temporalmente. Porque não são duas praças, mas inúmeras, o que a demolição das narrativas de ambas no texto e pelo texto atesta com clareza. Tanto a estória de Maria quanto a de Marita, ao se dissolverem, dão passagem a estórias paralelas ou perpendiculares, momentaneamente em contato com a estória deles, e que começam a se desenvolver, vindo de um caminho e indo para outra direção. Esse seria um segundo estratagema, que permite a dispensa dos dois narradores porque o destino troca de voz ou de mão, já que todas as estórias e histórias estão aparentemente congeladas numa imagem grotesca. E são tão indistintas todas as estórias que elas podem ser simplesmente numeradas em seqüência, da capítulo 1 ao 90.

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Bruno
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01/11/2009 13:29:21

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