Uma cidade? Uma tribo pagã? Ou um bando de gatos de rua?
Luciana Cunha Pereira utiliza as palavras como brumas para brincar com as diversas realidades que se insinuam diante da imaginação do leitor. Trata-se de uma história que entrecruza tempos, um tempo com sabor ancestral, místico, mágico, atravessado por prédios acinzentados de uma metrópole.
Assim é construída a saga de Fottiá, a líder de um bando em sua sina de ser a matriarca e conduzir a migração de seu povo. Perpassando cachoeiras e bosques soterrados por concreto, a heroína dessa história busca sua identidade, a compreensão de si e dos sentidos da feminilidade, dividida entre o papel que lhe foi destinado e um desejo de fuga para aquele outro lado da névoa de sua existência: o mundo das pessoas apressadas que mal podem enxergar além de suas vidas cotidianas e pouco compreendem os sentidos míticos que encarnam.
Este livro é um convite para sentar-se com calma, sentir o calor de uma xícara quente de café nas mãos e saborear lentamente sua trama repleta de imagens e símbolos, muitos dos quais podem passar desapercebidos, mas que são capazes de dialogar com nosso inconsciente enquanto nos entregamos a seu enredo instigante. Uma história marcada por questionamentos, maravilhas e angústias tão antigas e tão atuais, que alcançam nossa ancestralidade e nossa contemporaneidade.
Afinal, como Fottiá, talvez sejamos os mesmos seres, sejam gatos de rua, um bando em um ritual da fertilidade ou um grupo de amigos em risadas descontraídas em um bar. Entrelaçar essas realidades aparentemente distintas é o grande trunfo desse romance que nos coloca diante do que há de atemporal em nós.
Fábula / Fantasia / Romance