Esse livro que você tem em mãos vai te levar pra outro lugar, outro corpo, e outro tempo - como os melhores livros fazem. Mas também pro fundo dos recônditos da caverna da sua alma - como os melhores livros fazem.
A gente costuma elogiar alguém dizendo que a pessoa amadureceu. Mas o processo de escrever um livro desses precisa de um desamadurecimento muito grande. E pra desamadurecer é preciso a maior coragem do mundo: se despir de tudo o que a gente tinha vestido pra se proteger do mal do mundo.
Tem gente que nasceu pra escrever. Mas isso não basta. Porque além de nascer, é preciso escrever. E a Julia nunca parou: passou a vida escrevendo, por si e pelos outros. Você já deve ter lido a Julia, mas talvez não saiba. Faz tempo que ela traduz textos de todo tipo, vindo de toda gente.
Até que Julia escreveu esse livro, traduzido de si mesma - escrito originalmente na língua distante da sua infância, língua que só tem ela mesma de falante. Daí talvez venha o fascínio pelo narrador infantil: essa viagem pro país distante da infância alheia ajuda a entender nossa própria jornada rumo ao nosso corpo. Como é que a gente veio parar aqui? A Julia não dá uma resposta, mas escreve essa pergunta como ninguém.
Que bom ver nascer uma grande escritora. Que bom ver, trinta e quatro anos depois, essa
escritora parindo.
Literatura Brasileira / Romance