Roberto Nogueira esmurrou violentamente as teclas do piano e se levantou, caminhando nervosamente pela ampla sala. Franziu a testa, enquanto olhava o seu primeiro disco de ouro, numa moldura especial na parede. Havia sido uma fulgurante carreira. Em menos de seis meses ele chegara ao primeiro posto entre os ídolos do rock nacional. Fora um começo difícil, mas Roberto não pensava nisso naquele momento. Toda sua raiva se voltava contra aquelas malditas e fascinantes teclas brancas e pretas do piano, de onde eleja tirara as melhoras músicas de sua carreira. Mas agora todo o seu esforço era inútil. Por mais que se esforçasse, não conseguia arrancar nada que se parecesse com seus primeiros sucessos. Três meses atrás, ele conseguia compor. As combinações de notas lhe vinham com facilidade. Bastava olhar para os olhos azuis de Milene e seu coração se enchia de música. Mas ela estava agora separada dele. Roberto fora aconselhado a deixá-la. E não fora difícil isso para ele. Bastava estalar os dedos e as garotas caíam sobre ele. Até que ele percebeu, finalmente, que estava só, uma solidão perdida no meio da multidão que o amava. A angústia e o tédio se aliaram ao cansaço pelos constantes compromissos. Compor cada nova canção foi ficando cada vez mais difícil. Já não havia mais uma promessa ou um sonho para motivá-lo. Tudo estava a seus pés. Menos o amor, menos Milene.