Neste drama estão todos mortos e, ao contrário do que acreditavam, percebem que o inferno não é uma câmara de tortura, mas uma sala de estar ao estilo do Segundo Império francês. Lá eles irão – eternamente – espionar, provocar, tentar seduzir e, acima de tudo, dilacerar uns aos outros. “O inferno são os outros.” Essa é, certamente, a frase que pontua Entre quatro paredes, peça escrita pelo filósofo existencialista Jean-Paul Sartre em 1944 e publicada no ano seguinte.
A ação se passa no inferno, mas não o inferno cristão ao qual estamos acostumados, com demônios, castigos físicos e outros estereótipos. Nele, o jornalista Joseph Garcin, a lésbica Inês Serrano e a fútil Estelle Rigault são levados a um salão sem janelas, iluminado todo o tempo. Ali, enclausurados, são condenados a uma “vida sem interrupção”, o que torna a sobrevivência insuportável.
Confinados na eternidade, os personagens são seres atormentados pelos próprios fantasmas. Questões como culpa, responsabilização, consciência e sexualidade emergem dessa convivência, em conflitos desencadeados pela relação de vigilância e espelhamento entre eles. Conclui-se que, se a presença do outro incomoda, o que realmente exaspera o ser humano é o olhar do outro.
Drama / Ficção / Literatura Estrangeira