Aberto a inúmeras possibilidades de produção de sentido, Dom Casmurro deixa o leitor apreensivo ao confiar-lhe a responsabilidade de preencher as lacunas da narrativa, oriundas do projeto retórico-literário de Machado de Assis. Com tal programa, o escritor sinaliza esteticamente para algumas aporias e polêmicas de relevância como a questão do conhecimento e da verdade. Bento Santiago, para provar que Capitu o traiu com o melhor amigo, descortina, involuntariamente, incongruências entre a opinião e o fato, revelando que a realidade constitui uma construção moldada pela subjetividade humana, tingida por fatores socioeconômicos, políticos e religiosos. Sobre essa trama quase trágica, debruçaram-se seis pesquisadores que valorizaram a dimensão argumentativa, histórica e social da obra, apostando numa interpretação que, entre outros aspectos, anula ou relativiza a culpa de Capitu pelo adultério.