A necessidade de se encontrar sentido e significação nas ações cotidianas, nas regras sociais estabelecidas, nas coisas, nas relações interpessoais, enfim, na própria existência, não parece ser exclusivamente dos adultos. Não estaria a criança frequentemente demonstrando sua incessante busca por sentidos, sua estranheza diante daquilo que parece familiar, quando se esforça por compreender o que se lhe parece familiar, quando se esforça por compreender o que se lhe apresenta, de forma questionadora? Aguçada curiosidade, grande esforço de entendimento e prazeroso espanto diante das próprias descobertas integram, via de regra, o universo infantil. No entanto, poderia este pensar comum, cotidiano, peculiar à infância ser interpretado como um pensar filosófico? O que seria necessário acrescentar-lhe para que ele se legitimasse como tal? Como este pensar poderia ser aprimorado? Como garantir-lhe rigor intelectual? Que concepção de infância se faria necessária para que a filosofia pudesse estar presente nela? Intrigados por estas e tantas outras questões pertinentes à possibilidade de que a filosofia esteja entre crianças e jovens, vários estudiosos, pesquisadores, filósofos e educadores se integram, nos textos que se seguem, num esforço coletivo de compreensão do tema. No caminho delineado por este trabalho investigativo situa-se o Programa Filosofia para crianças, aqui em debate. Reconhecido por muitos educadores atuais como uma possibilidade de aprimoramento de pensar infantil, este programa propõe a inserção da filosofia já nas séries escolares iniciais. Adaptada à realidade infantil e despida de sua hermética terminologia, a filosofia é apresentada na forma de tópicos filosóficos inseridos em pequenas histórias. Ousada, esta proposta filosófico-pedagógica elaborada por Matthew Lipman os impele a conhecê-la, a descobrir sua fundamentação teórica, a reconstituir sua trajetória histórica no mundo, a identificar seus elementos constitutivos. Este é o momento de encontrá-la e pensá-la. Vamos lá!