Quando os navegantes espanhóis descobriram a América, uma imagem imediatamente os surpreendeu: a de indígenas aspirando, de uma forma que prenunciava o charuto e o cigarro, a folha de uma planta mais tarde batizada como tabaco. Ao longo desses 500 anos, cercado de controvérsias, foi alvo de execrações, restrições, proibições. Mas, ao mesmo tempo, de diversos modos e em escala crescente, foi usado como instrumento de prazer e sedução, como indicador de status e, em ocasiões cruciais, como símbolo de vontade e determinação: quem pode separar Churchill de seu charuto?
É essa conturbada mas fascinante viagem do tabaco através dos séculos e dos continentes que nos conta Guillermo Cabrera Infante. O escritor capta a trajetória do tabaco, através de uma longa cadeia de episódios curiosos e interessantes, protagonizados por famosas personalidades do passado e do presente, com destaque para a gente da poesia, do romance, da música, das artes, do teatro, do cinema e da tevê. Tudo narrado com o conhecimento e a autenticidade de quem quase nasceu com um charuto entre os dedos, tornou-se um dos romancistas mais apreciados da atualidade e não se inibe em demonstrar, com a ajuda do seu grande senso de humor, que há boas e saborosas maneiras de transformar em pura fumaça as tensões e os transtornos da vida contemporânea. (Mário Pontes)