Geografia da Escravidão

Geografia da Escravidão Marco Aurélio dos Santos


Compartilhe


Geografia da Escravidão





No século XIX, era corrente o dito de que o “Brasil é o Vale”. A metonímia expressava de forma cristalina o papel central que a exportação de café, concentrada nos municípios fluminenses, mineiros e paulistas da bacia do rio Paraíba do Sul, desempenhou para a construção institucional do Império do Brasil. A oferta dessa região também foi decisiva para a profunda transformação nos padrões de consumo da bebida estimulante, tornando-a quase que item obrigatório na cesta dos trabalhadores urbanos dos centros industriais da economia mundial.
O fundamento desses dois processos residiu na escravização massiva e ilegal dos africanos que aqui chegaram durantes as décadas de 1830 e 1840. Posteriormente ao fim do tráfico transatlântico, em 1850, a enorme engrenagem de exploração do trabalho humano continuou a ser alimentada pelo tráfico interno de escravos.
O município de Bananal, localizado na fronteira da província de São Paulo com a do Rio de Janeiro, esteve no coração dessa história. Com as lentes voltadas para a segunda metade do século XIX, Marco Aurélio dos Santos nos apresenta uma perspectiva altamente original para sua compreensão, por meio da análise do que ele denomina como a geografia da escravidão.
Para comandar o trabalho escravo, os senhores ordenaram o espaço das fazendas com o objetivo de impor rígidos protocolos disciplinares. A vida escrava deveria obedecer a uma ordem espacial que regularia minuciosamente seu tempo e movimento. Os escravos, no entanto, operando dentro do campo estipulado pelos senhores, procuraram a cada momento inverter a lógica espacial que lhes era imposta e, ao fazê-lo, lograram criar uma geografia alternativa àquela dos senhores. No entrechoque da geografia dos senhores e da geografia dos escravos, produziu-se a dinâmica concreta da escravidão no mundo do café.
Ao salientar a importância crucial da dimensão espacial para a conformação das relações sociais, o autor lança um novo olhar ao tema canônico da resistência escrava, problematizando conceitos (como os de agência, autonomia e comunidade) que não raro são naturalizados pela historiografia. Trata-se, em resumo, de uma contribuição de peso para o avanço do conhecimento do nosso passado escravista.

História

Edições (1)

ver mais
Geografia da Escravidão

Similares


Estatísticas

Desejam1
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 3.5 / 1
5
ranking 0
0%
4
ranking 100
100%
3
ranking 0
0%
2
ranking 0
0%
1
ranking 0
0%

50%

50%

Guilherme.Chaves
cadastrou em:
19/01/2017 15:01:03

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR