Gosto, interpretação e crítica

Embora todas as ciências humanas e a filosofia sejam sempre questionadas em sua pretendida objetividade, o discurso sobre a arte levanta sempre a suspeita de ser excessivamente subjetivo. Afinal de contas, tal como se costuma ouvir, “quem pode estabelecer o que é de bom e mau gosto?”, ou ainda: “que critérios são válidos para afirmar se uma obra de arte é boa ou não?”. Considerando que os próprios estetas afirmam ser essencial à arte não possuir um significado fixo e definitivo, o que impede de considerarmos toda interpretação como igualmente válida?

Se, por um lado, abdicamos a uma objetividade tal como requerida nas ciências da natureza, por outro se mostra bastante questionável contentarmo-nos com um total relativismo, em que quaisquer valores críticos se dissolvem e se esvai a própria legitimidade da estética como disciplina filosófica.

Levando-se em conta a já reconhecida reflexividade inerente ao fazer artístico contemporâneo, o questionamento filosófico dos princípios da crítica e do juízo sobre a arte não apenas favorece nossa apreciação das obras, quanto também pode ser incorporado a elas como seu material.

Isso significa que a estética não se contenta em ser apenas um âmbito de discussões especializadas, mas também se recusa a fornecer indicações precisas e inequívocas de como se deve compreender, apreciar e fazer arte. Ela se institui como um campo de mediação dialogada entre a experiência social e histórica, de onde surgem os fenômenos estéticos, e nosso posicionamento como juízes e apreciadores de tudo que perfaz o “mundo da arte”, para retomar uma expressão de Arthur Danto.

Os textos reunidos neste volume procuram refletir sobre três conceitos de capital importância nessa problemática: gosto, interpretação e crítica. Atravessando diversos períodos históricos da reflexão estética, e pautando-se pela experiência concreta de lida com a arte, os autores nos oferecem posicionamentos que tendem a renovar o debate sobre as diferentes formas de produção, leitura e apreciação dos objetos estéticos.

[Texto de orelha escrito por Verlaine Freitas]

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