Depois de nos fornecer quatro preciosos volumes: Estrangeirismos - guerras em torno da língua, de Carlos Alberto Faraco; Língua materna - letramento, variação e ensino, de Maros Bagno, Michael Stubbs e Gilles Gagné; História concisa da lingüística, de Barbara Weedwood, e Sociolingüística - uma introdução crítica, de Louis-Jean Calvet, a coleção “Na Ponta da Língua” da Parábola Editorial nos apresenta a História Concisa da Escrita, de Charles Higounet, traduzida por Marcos Marcionilo, num bem acabado volume de 192 páginas ilustradas, que vai aqui apresentado ao público interessado dos filólogos e lingüistas.
História concisa da escrita registra em poucas páginas toda a aventura da humanidade no estabelecimento da escrita como procedimento de fixação da linguagem articulada. Contudo, a escrita é, mais que instrumento, mais que modo de imobilização da linguagem, uma nova linguagem, que disciplina o pensamento e, ao transcrevê-lo, o organiza.
A escrita dá acesso direto ao mundo das idéias e permite apreender o pensamento e fazê-lo atravessar o espaço e o tempo; é o fato social que está na base de nossa civilização.
Ao final dessa sintética história gráfica da escrita, cada qual pode, segundo seu gosto ou seu temperamento, recuar para o passado, ou olhar para o futuro. Recuar ao passado é entrar no domínio da pesquisa paleográfica; olhar para o futuro é se preocupar no imediato com o ensino da escrita.
O presente e o futuro demandam mais que especulações. O que importa é manter para as novas gerações o uso de uma escrita corrente de boa qualidade e de grande rapidez e fazer aumentar sempre o número de indivíduos que sabem escrever. (4ª capa)
As orelhas do livro trazem uma síntese da pretensão dos editores e dos organizadores da coleção:
A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e desde a escrita: a lei escrita substituiu a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição legendária.
História concisa da escrita registra em poucas páginas toda a aventura da humanidade no estabelecimento da escrita como procedimento de fixação da linguagem articulada.
Pode-se dizer que, dentro de seu campo, nada falta a este livro. Esta é a razão de sua permanência num cenário marcado por grande cuidado no resgate da história da escrita.
Fiel a si mesma, a coleção “Na Ponta da Língua” resgata esse clássico, escrito por um autor que conhece o assunto perfeitamente e que sabe escrever com propriedade.
História concisa da escrita aborda toda a história do texto, desde as suas origens a nossos dias, percurso graficamente enriquecido por uma série de ilustrações que traduzem plasticamente a densidade do assunto tratado.
Os editores justificam, desnecessariamente, a meu ver, a motivação que os levaram a publicar o livro aqui apresentado, nos seguintes termos:
Decidimos publicá-lo por se tratar de uma “história concisa”, rica em dados que normalmente não circulam entre nossos estudantes e rica em capacidade de síntese. A necessidade de síntese não levou Higounet a perder nada do fundamental num percurso que cobre um longo arco de tempo. Em momento algum el perdeu a riqueza de todos os períodos e sistemas abordados, com um didatismo só encontrável nos profundos conhecedores do assunto. Sua experiência de paleógrafo lhe permitiu ser um bom professor de história da escrita. (p. 7)
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... o encadeamento histórico e as questões de base postas por Higounet permanecem rigorosamente válidos para o ensino e para a reflexão e podem alimentar o projeto de difusão do conhecimento que anima todas as nossas iniciativas. (p. 8)
Para completar essa resenha técnica da História concisa da escrita, transcreve-se também o seu sumário, para que seus futuros leitores já tenham uma imagem perfeita do trabalho visto por seus próprios editores:
Nota do Editor 7
Capítulo I - A escrita, expressão gráfica da linguagem 9
Escrita e civilização 9
Escrita e linguagem 11
Materiais e caracteres das escritas 15
Decifração e estudo das escritas 22
Capítulo II - As escritas não-alfabéticas 29
A escrita sumero-arcádica 29
A escrita egípcia 37
As escritas “hitita” hieroglífica, proto-indiana e cretense 43
A escrita chinesa 48
As escritas americanas pré-colombianas 54
As escritas silábicas cipriota e persepolitana 56
Capítulo III - As escritas alfabéticas 59
As origens do alfabeto 59
O alfabeto fenício 66
As escritas aramaicas e o hebraico quadrado 70
A escrita árabe 74
As escritas sul-arábicas e etíopes 79
As escritas indianas 81
As escritas líbia e ibérica 84
O Alfabeto grego 85
Os alfabetos surgidos do grego: copta, gótico e eslavo 94
As escritas rúnicas 97
Capítulo IV - A escrita latina até o século VIII 101
Os alfabetos etruscos e itálicos 101
O alfabeto latino 103
A escrita romana até o século II 106
A metamorfose da escrita romana 109
As escritas pré-carolíngias 115
As origens da escrita carolíngia 120
Capítulo V - A escrita medieval 127
A escrita carolíngia 127
A expansão e a evolução da escrita carolíngia 132
A escrita gótica 137
A escrita humanística 143
As notas tironianas e as abreviações medievais 145
Os números e os sinais auxiliares da escrita 152
Capítulo VI - Problemas de hoje e de amanhã 159
As escritas mecânicas 159
As escritas manuscritas modernas 165
As abreviações contemporâneas e a estenografia 169
Problemas de pesquisa e de ensino 173
O progresso do alfabeto latino 176
A geografia e o futuro da escrita 179
Bibliografia 185
Graças ao sucesso da escrita na história da humanidade, Higounet lembra que “Há até quem sonhe com uma escrita universal, ao menos manuscrita, que combinaria a exatidão da notação do sistema fonético internacional com a simplicidade gráfica e a rapidez dos sistemas estenográficos” (p. 182), mas, com a chegada da comunicação virtual (via Internet) o sonho de uns poucos está perto de se esboçar concretamente, acreditamos.