Imediaticidade

Desde meados da década de 80, o Serviço Social brasileiro vem oferecendo às ciências sociais uma bibliografia que visa, na feliz expressão de Georg Lukács, a "restituição do sentido original da obra de Marx". É nesta perspectiva que se insere o livro de Marilene Coelho.
Despendendo um esforço cada vez mais raro de "ir às fontes" da filosofia, resgata a ontologia marxiana, pela via de um apreciação, a mais correta possível, da "falsa e da verdadeira ontologia de Hegel", reforçando uma tendência manifesta em um conjunto inusitado e escasso de obras de assistentes sociais que visa a busca pelos fundamentos, pela legalidade tendencial dos processos sociais, pelas mediações que lhes são constitutivas e lhes dão sentido e direção.
Marilene nos leva a um caminho fecundo: superar a imediaticidade na prática profissional, como resultado de recorrência à razão crítico-dialética, nos exige captar as mediações e os sistemas de mediações nos quais a profissão se insere e aos quais ela recorre.
Com este procedimento, a autora põe em questão as analises que se renovam nas chamadas ciências sociais particulares que permanecem na epiderme do real, na sua fenomenalidade, como um sintoma do pensamento burguês fetichizado. Ao pensamento conservador e neoconservador (do qual o campo pós-moderno é expressão), fecundo em produzir abstrações, não interessa ultrapassar a apreensão da realidade para além da imediaticidade de suas formas fenomênicas, donde, para o seu enfrentamento, faz-se necessário o resgate da categoria ontológico-reflexiva de mediação.
Estou certa de que este livro, que se constitui numa referência imperativa a todos os que não se contentam com a imediaticidade posta na e pela aparência do real, comprova que a interlocução com o pensamento marxista, tal como observou Netto, confere ao Serviço Social sua carta de cidadania intelectual.
Yolanda Guerra