Incidentes na vida de uma garota escrava, escritos por ela mesma

O que retemos da escravidão nas escolas pode ser resumido a um punhado de dados abstratos sobre o que aconteceu a uma gente que viveu num passado longínquo, distante de nossa experiência. Nos Estados Unidos isso não é diferente. Ouvir o que os próprios escravos escreveram a respeito nos confronta com uma história muito diferente: no relato de Jacobs e de outros importantes autores afrodescendentes da época (Frederick Douglass, Harriet E. Wilson, Maria Firmina dos Reis, etc), encontramos não apenas detalhes sórdidos sobre o dia-a-dia hostil das lavouras e grandes casas, mas também reflexões profundas sobre o efeito devastador da escravidão sobre a religiosidade, moral e relações familiares, tanto dos negros, quanto dos próprios brancos. Para esses autores, combater a escravidão era também combater a degradação social de um país à beira de um colapso que, no final, resultou em uma das mais famosas e sangrentas guerras civis da história recente.


O livro de Jacobs entrou nos currículos escolares norte-americanos há pouco tempo. Até 1973, ele foi descreditado como uma narrativa puramente ficcional, escrita por uma abolicionista branca para ilustrar os males da escravidão. Por meio do esforço da historiadora Jean Fagan Yellin e pesquisadoras posteriores — num trabalho que durou mais de dez anos —, a história de Jacobs foi provada como autêntica, e hoje chega ao público brasileiro em uma nova tradução comentada, contendo um extenso glossário sobre conceitos centrais da obra, uma linha do tempo e bibliografia recomendada.

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