A violência, no Estado do Pará, jamais poderá ser vista ou analisada como um caso de polícia. É muito mais que isso: é um caso de justica, ou melhor, um caso de falta de justiça. Tomado por essa certeza, o advogado Ronaldo Barata muniu-se de farta documentação e, ao longo e três anos, escreveu este Inventário da Violência: Crime e Impunidade no Campo Paraense, que o professor Nelson de Figueiredo Ribeiro classifica como "um conjunto de informações sistematizadas sobre os conflitos agrários havidos na região, incluindo o histórico de cada ocorrência conflitual". Buscando dados no arquivo da Comissão Pastoral da Terra - Regional Norte II, e compilando aqueles que foram possível conhecer, a quando de sua passagem pela Superintendência Regional do Incra, em 1985, e pela Presidência do Getat, em 1986, Ronaldo Barata compôs um duro - porém verdadeiro - painel sobre a violência no Pará que, nos anos 80, guardou consigo o triste recorde de campeão nacional de violência no campo. Com os números em mãos, o autor desta obra pôde, enfim, redigir o inventário sobre a situação do homem no campo do Pará, entre os anos de 1980 e 1989. O papel da imprensa na elaboração do documento foi fundamental, uma vez que, pelas páginas dos jornais, chegou a situações novas, que não constavam nos arquivos consultados. Diante dos casos que apareciam à frente, Ronaldo Barata realizou uma leitura mais abrangente do conceito de violência. Escapou do aspeco exteior, normalmente vinculado à coação física, percebeu que as omissões também ajudaram a fazer crescer o panorama de insegurança a que ficam expostos os que saíram de suas regiões para tentar a vida no Norte do país, ora empurrados por um sistema capitalista que quase rima com escravagista, ora estimulados por uma política oficial de ocupação de terras. No Inventátio da Violência: Crime e Impunidade no Campo Paraense, o leitor não encontrará indagações sobre as origens, causas e consequências do brutal desrespeito à vida humana no campo paraense, mas, como propôs seu autor, um inventário, uma forma narrativa de casos nos quais o homem foi reduzido a uma condição degradante, incompatível com o que se deseja ou se supõe humano. Aqui está uma parte da história do Pará quase no exato momento em que ela acontece.
Sociologia