Um soco, já disse o crítico Leo Gilson Ribeiro sobre o vigor estilístico de Leão de chácara, comparando seu autor a Céline e Jean Genet, escritores que viveram no universo dos marginalizados e o transformaram em literatura. Publicado em 1975, é o segundo livro de contos assinado por João Antônio (1937-1996). Entre Malagueta, Perus e Bacanaço e este, o golpe de 1964 e a mudança do escritor para o Rio de Janeiro. Esse deslocamento - dos subúrbios paulistanos para a Zona Sul carioca, onde ricos e pobres convivem muitas vezes lado a lado - talvez responda pela diferença de tom, dando a sensação de um mergulho mais fundo e de uma visão mais desencantada da vida urbana.
Nos quatro contos do livro, o estilo é mais incisivo, as gírias multiplicam-se, o enredo carrega mais violência - com um ressentimento de classe muitas vezes explícito. Vivendo de otários, na humilhação e no vexame, tendo de suportar as vontades para levantar o tutu dos trouxas, a gente tem bronca dessa raça, diz o personagem Joãozinho da Babilônia no conto homônimo. No mesmo espírito, porém de forma ainda mais intensa, Paulinho perna torta, no texto que fecha o volume, narra sua trajetória, de engraxate a rei da Boca do Lixo paulistana.
Contos / Literatura Brasileira