Leves Sombras

E aqui estou eu, mais uma vez, a navegar pelas sagradas entranhas dessa cidade do Sertão da Bahia que se tornou lendária pelas artes de dois de deus filhos escritores, Antônio Torres, membo da Academia Brasileira de Letras, e Luiz Eudes.
Hoje vou falar deste e da primorosa coletânea de contos curtos com imensidões de belezas embutidas em suas linhas.
Já conhecia do autor "Cangalha do Vento", também de contos, mas entrelaçados a formar uma textura de quase romance. Com que emoção, amigos, praticamente decorei o primeiro parágrafo daquela obra, que diz assim: "Como poderia viver por mais tempo o jomem que tanto amara? Não havia remédio contra a morte, a saudade era inútil, a ausência perene. Aristeu, o Galego, olhou languidamente a tarde que esmorecia no céu do Junco, onde filetes escarlates delineavam o céu, e morreu com a imagem de Tereza sorrindo para ele".
Por isso, é claro que estava ansioso para palmilhar outros textos e logo vi que a chuva daquela tarde irrigaria um terreno onde o encanto das narrativas brotaria com o viço impregnado de sensibilidade e espírito.
Luiz Eudes conta suas histórias com a simplicidade que leva imediatamente quem as lê à intimidade com fatos e personagens. Em cada um dos contos o leitor navega por um universo no qual os pequenos fatos do dia a dia nos levam a experimentar emoções que o narrador hábil pinta com as cores da emoção. E é então que aprendemos que "o Junco é o mundo inteiro como o sertão de Guimarães Rosa", como bem nos ensina outro escritor baiano, Adroaldo Almeida.
Quero destacar ainda as esplêndidas ilustrações do Samuel Costa e lembrar que Luiz Eudes é consagrado autor e suas obras já circulam, também, em Portuga, Angola e na Itália.


Antônio Contente
Jornalista e escritor
Campinas - SP

Contos