Há um contágio inexorável entre o processo construtivo de um campo literário qualquer - com seus conflitos ontológicos e epistemológicos - e forças macro e micropolíticas extrínsecas às suas supostas especificidades práticas e disciplinares. Muitas tendências teórico-críticas, surgidas a partir das últimas décadas do século XX, explicitaram esse contágio, desqualificando, progressivamente, definições essencializadoras da literatura em prol de perspectivas interessadas em problematizar as circunstâncias, transtextuais e transdisciplinares, de valoração e legitimação dos circuitos literários. A dessacralização da autonomia dos valores literários nos despertou, de modo saudável, para o fato de que a literatura não é uma produção de signos desinteressada. Portanto, ela se faz com e pela política. De outro lado, nos legou a pobre tentação de relativizar todo e qualquer valor estético e cultural, o que, nem sempre, mas muitas vezes, tem gerado uma banalização da cultura e o apagamento de suas diferenças. Por isso, hoje, mais do que simplesmente constatar a relação óbvia entre literatura e política, é necessário indagar de que modo a literatura, em diálogo singular e, simultaneamente, plural com a vida, pode constituir uma prática política forte, capaz de criar, no corpo da cultura e nas brechas de seus projetos de hegemonia, novas possibilidades de existir e re-existir. Os textos presentes neste livro, de muitas maneiras, contribuem para o desdobramento de tal indagação, pensando ou repensando a diferença que a literatura produz nas esferas dominantes e opressivas dos mercados, dos estados, das culturas urbanas, das instâncias do mundo globalizado, dos saberes cristalizados e do próprio “fascismo” das línguas, para lembrar Roland Barthes.
Educação / Literatura Brasileira / Política