O baiano Manuel Raimundo Querino (1851 – 1923) foi um intelectual afro-descendente, aluno fundador do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia e da Escola de Belas Artes, pintor, escritor, líder abolicionista e pioneiro nos registros antropológicos da cultura africana na Bahia. O colono preto como fator da civilização brasileira, publicada pela primeira vez em 1918, foi uma das suas muitas obras de destaque.
“No período em que viveu e construiu essa obra, referência perene dos costumes afro-baianos, da gastronomia e das artes visuais baianas no século 19, Querino conviveu com a escravidão; com a política publica imperial, luso-brasileira, de europeização e/ou desafricanização do País; e com o racismo. Por isso, as criações, mais que antropológicas ou históricas, foram atos de bravura contra a indiferença, o racismo e a hostilidade que ainda turbam as relações humanas no País. Suas fontes, africanos escravizados ou libertos, humanos respeitáveis, idosos, desinibidos diante do semelhante, nos presentearam com um universo que, dificilmente, emergiria por outros portais. O Brasil acadêmico já considera Querino sua fonte, mas é preciso que o Brasil mundano que ama a gastronomia, as artes visuais, o candomblé, os pensadores, a ousadia, consuma esta obra. Seu consumo é a melhor vingança contra a indiferença, o racismo e a hostilidade que, um dia, tentaram barrar Querino.”
– Aninha Franco, coordenadora da coleção.
História / História do Brasil / Sociologia