Naquele dia, haviam caminhado de mãos dadas pela Praça da Sé, alimentando os pombos com farelo de milho e admirando os reflexos do sol nas janelas dos espigões. Perambularam pelas estações do Metrô como dois passageiros comuns, de mãos dadas. Viajaram, num canto discreto do vagão, cada um dizendo tudo que tinha a dizer, como se cada momento fosse uma nova descoberta e uma oportunidade para se conhecerem melhor. Ao entardecer, deliciaram-se com um cachorro-quente à porta de um teatro, depois se distraíram olhando cartazes e letreiros luminosos que, com a chegada da noite, davam vida às ruas. Não visitaram o MASP, mas passaram por ele, abraçados, apenas esperando o tempo passar na sua costumeira lentidão. Cristina Moreira, cabelos louros e curtos, ar travesso num rosto expressivo, onde um par de olhos verdes reluziam cheios de vida e ternura. Marcos Henriques, pianista desempregado, olhos azuis e tristes, um sobretudo surrado sobre o terno de todos os dias, uma vontade enorme de vencer e amar aquela garota do modo como deveria ser. Tudo parecia perfeito e definitivo em suas vidas, mas o destino se encarregaria de afastá-los e de fazer da lembrança daquele amor a inspiração para um recomeço.