Ao contrário de seu primeiro romance (Perto do Coração Selvagem), escrito em fragmentos, saltando constantemente de uma cena para outra, O Lustre é um conjunto coerente. Apesar de os seus extensos segmentos descreverem propositadamente acontecimentos, consistem sobretudo em longos monólogos interiores, interrompidos apenas por um singular e pertubador fragmento contendo diálogo ou ação. O livro progride em ondas lentas que se elevam, alterosas, nos momentos de revelação. As páginas entre estas epifanias são precisamente os momentos em que o livro se torna mais intolerável para o leitor, que é forçado a seguir o movimento interior de outra pessoa com um detalhe microscópico. Acostumado às epifanias, esperando estímulos e surpresas permanentes, o leitor que aborde o livro pela primeira vez depressa se sente desconcertado.
Porém a intensidade glacial do livro exerce um fascínio particular.
(...)Só quando lido devagar, refletidamente, e sem distrações, três ou cinco páginas de cada vez, é que o Lustre revela o seu caráter penetrante.
[Benjamin Moser, Clarice Linspector - Uma Vida]
Literatura Brasileira / Ficção / Romance