A viagem da Ana Cabeluda pelo Vale da Lua Azul poderia bem começar pela Caverna do Esquecimento, a prisão da Terra de Ozka, onde quem é preso é esquecido por quem está do lado de fora. Ou poderia começar pelo Lago Manso, onde nasce o Rio Confuso, que dá tantas voltas que quem se atreve a percorrer suas margens acaba se perdendo. Outra opção seria a gigantesca Ã?rvore Cipé, tão grande, que, no seu tronco, havia uma caverna em que habitava a Bruxa de Acra, que saía todos os dias para colher as folhas mágicas da Floresta das Ã?rvores Inteligentes, para assim poder preparar as suas fórmulas secretas. Até mesmo poderia começar pela Chave da Sabedoria, que ficou tanto tempo perdida. No entanto, a viagem da Ana começa em outro lugar, bem distante do Vale da Lua Azul. Começa na imensidão de concreto e ferro que, cada vez mais, aprisiona nossos pensamentos ao círculo comum do cotidiano. Começa na correria de todos nós. Começa no bombardeio televisivo que invade nossas casas 24 horas por dia. Começa na imensidão eletrônica que nos cerca em supermercados, cinemas, lan houses, fliperamas, locadoras... oferecendo-nos pacotes de imaginação, já pronta para se comprar. Ana Cabeluda começa pela liberdade de sonhar, pensar, imaginar, sem âncoras, sem pesos, e acaba nos levando a uma viagem de aprendizado pelo amor e pelo perdão, elementos que, como a imaginação, não podemos jamais deixar rarear em nossas vidas.