Feliky 14/11/2023
Amei a personagem da Antígona
Primeiramente, vou botar as notas de cada peça como história em si:
Édipo Rei - 5
Édipo em Colono - 3
Antígona - 4
Agora, vamos por peças:
Édipo Rei - Achei uma história bem estruturada e os personagens eram críveis, além de que você realmente sente como a situação toda é uma tragédia. Os diálogos foram fluidos e o enredo não se torna desinteressante, pelo contrário! Édipo Rei na realidade foi a primeira obra grega que li, ainda na escola, mas foi outra edição e eu quis revisitar agora que estou lendo mais obras da mitologia grega e não me arrependo! Além dessa leitura na escola, o único personagem daqui que eu tinha tido contato direto antes foi o Tirésias por causa do Homero.
Édipo em Colono - Boa parte dos pontos dela vem da Antígona, que foi a personagem que mais me interessou nessa peça, e do Teseu, que é a primeira leitura grega que faço em que ele efetivamente aparece (nas outras eu vi ele mais sendo mencionado). É muito bom ver a relação que Édipo tem com suas filhas, Ismene e Antígona, a quem ele claramente ainda valoriza e ama muito por mais perturbadora que seja a origem delas e também traçar um paralelo em relação a Polidices e Etéocles. Teseu aqui foi escrito basicamente como um herói sem defeitos ao mesmo tempo que não soa muito artificial (algo raro nos textos de mitologia grega que li até então), então também é bem fácil gostar dele. Meu problema é que sinto que a narrativa foi ficando meio maçante e pareceu empacada em dados momentos.
Além disso, Sófocles certamente gostava muito de ser de Colono, porque aqui ele faz questão de ter longos trechos descrevendo de forma maravilhada como é a região. Por vezes, nem é algo que teria tanta importância narrativa assim e isso pode aborrecer alguns, mas achei interessante ter esse vislumbre do autor.
Antígona - A própria Antígona é uma ótima personagem. Ela é um tipo de personagem feminina que mesmo nos dias de hoje você dificilmente vê um autor escrevendo de maneira decente, mas Sófocles anos atrás fez. Ela é definitivamente forte por, apesar de tudo o que passou dentro da família, continuar determinada a fazer o que acredita que é certo e ajudar seus familiares como pode (assim como em Édipo em Colono inclusive). Mesmo quando é desmerecida, inclusive explicitamente por ser mulher, ela não desiste. Ela é ousada e, por vezes, desdenhosa, atribuindo uma personalidade clara a ela, mas no fim Antígona ainda é uma personagem sobre gentileza e cuidado. Para torná-la gentil e amorosa, não foi necessário torná-la uma porta ou fazer tudo dela ser sobre outro personagem. E para torná-la forte, não foi necessário transformá-la em uma pessoa desagradável. Ela é o equilíbrio. Estou dizendo que não gosto de personagens femininas desagradáveis? Nah, eu gosto também! Uma das minhas preferidas dos mitos gregos é Clitemnestra, inclusive! Mas é sempre bom ver que alguém consegue escrever o equilíbrio. Mas claro, ela ser uma boa personagem feminina não é o mesmo que dizer que não há nem um pouco da misoginia típica da época na trilogia. Por ex, mesmo quando Édipo vai elogiar as filhas em detrimento dos filhos, ele o faz dizendo que elas são mais homens que eles e como se eles fossem mais femininos que ela (assim, associando o bom com o masculino e ruim com o feminino).
Além disso, a peça traz uma crítica e uma reflexão em relação ao seguir o que a lei, por vezes tirânica, diz e entre fazer o que é essencialmente certo. O "essencialmente certo" aqui é mais no sentido da lei divina do panteão grego já que Antígona é religiosa, mas acredito que dá pra aplicar a mesma ideia para outras religiões e, mesmo se você não for religioso (meu caso), dá pra adaptar para o que é eticamente certo sem necessariamente focar em uma religião. Também me pareceu ter uma ideia de conflito de gerações, com Creonte sendo a anterior e Antígona representando a posterior (embora ela não sozinha, já que quem leu sabe que há outros personagens igualmente jovens como ela que entram no meio). É realmente interessante. Só não gostei muito mais pro final mesmo, que me pareceu ir correndo pra finalizar.
Sobre a edição:
É a edição da Zahar que reúne a chamada Trilogia Tebana (Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona) com tradução de Mário da Gama Kury. Não vou opinar se é fiel ou não porque não tenho a menor noção de grego, mas posso dizer que o linguajar é de fácil compreensão, então não há por que ter aquele receio de ah será que seria uma leitura difícil. Não vou opinar sobre coisas tipo capa e acabamento, pois foi e-book.
Outro livro de peças dessa coleção que li foi A Oréstia (Agamêmnon, Coéforas, Eumênides), da mesma editora e do mesmo tradutor, e a crítica que tive lá se reflete aqui: eu admito que tenho um fraco por textos complementares, pois adoro mais explicações e contextos ajudando a formar a ideia da obra mais claramente, mas infelizmente as obras dessa coleção são muito fracas nesse quesito. A introdução geralmente dá alguma informação legal, mas ainda assim é meio rasa e não vai muito longe. As notas em sua maioria são mais feitas para explicar o que cada palavra é (tipo explicar o que é cada divindade mencionada), o que não acho particularmente um problema porque há leitor que não sabe, mas senti falta de notas mais informativas. Acho que a proposta da coleção da Zahar é tornar as leituras acessíveis e mais do gosto da pessoa que quer ler completamente despreocupada com contextos históricos e etc, então pelo menos deve ser do agrado de muitos, mas admito que não é do meu gosto.
Fiquei sabendo que a Penguin tem uma Antígona e fiquei interessada, talvez eu volte a reler Antígona pela edição da Penguin porque geralmente essa editora tem uns textos complementares interessantes. Infelizmente, não achei algum indício de que ela tenha publicado Édipo Rei e Édipo em Colono e não sei se tem edições brasileiras dessas duas peças que sejam mais "completas", digamos assim.