Carol @solemgemeos15 02/07/2023
Uma releitura de uma lenda sul-coreana, por uma perspectiva feminista, reimaginando a vida de duas mulheres que possuem pontos de inícios tão diferentes, mas que possuem vidas entrelaçadas.
Shim Chong, na lenda é a representação ideal de uma mulher submissa e que permaneceu pura. Na história, ela é uma menina que perdeu a mãe e é pedinte, pois seu pai é cego (e, na história, consequentemente inválido). É especialmente interessante, como ela observa a diferença de comportamento da cidade assim que souberam de sua miséria (com olhos com compaixão) e, após alguns anos se passarem (como uma inconveniência).
Shim Chong se depara com a nova patroa, Madame, da família mais influente da cidade. Existe uma aura de mistério ao redor de Madame, pois ela veste uma máscara para quase todas as interações com pessoas, a fim de manter sua posição.
Há alguns elementos fantásticos, muito mais para estabelecer a ambientação e a espiritualidade daquele povo.
O que ganha principal destaque é como a história confronta a misoginia, os papeis esperados de uma mulher, os diferentes modos de como a misoginia irá intersseccionar com outros fatores e, consequentemente, afetar a vida de cada mulher. A história consegue articular bem como em uma sociedade patriarcal, nenhuma mulher poderá manter poder por muito tempo; e como suas vidas são resumidas a esses papeis secundários a fim de serem controlados e esquecidos.
O romance entre Shim Chong e Madame é um frescor, pois consegue balancear a angústia e anseio das personagens com as limitações e controles postos sobre corpos femininos. Eu poderia falar por horas sobre essa história e como as escritoras conseguiram humanizar mulheres, sem diminuir suas potência e a agência, assim como confrontar a misoginia institucionalizada e como isso afeta a vida de todos.