Malphys 03/06/2023
Adiava a leitura de Aritmética porque o título, diferente dos outros, me era entediante. Mas, clichê ou não, nas primeiras páginas é possível sentir a potência e a profundidade das personagens.
A história de Elisa, América e Mariana é atravessada, ao longo anos, pelos desejos, confusões, sentimentos - ou falta deles - de João, Eduardo e Rigel. As neuróticas são, na verdade, as mais lúcidas. E os caminhos de todos eles estão entrelaçados pela doentia forma de amar ou de não entender o amor.
É durante a depressão que Elisa encontra a cura para o seu adoecimento. E, mesmo adoecida, está lúcida como nunca, afinal, quais são os critérios para definir a loucura? A loucura de Mariana é a força, a teimosia e as convicções que carrega. Não nega o desejo, mas não deixa que isso seja a definição de quem é. E América é o elo, improvável, entre a depressão de Elisa e a Fúria de Mariana. É também a prova de que negar os desejos pode ser a decisão mais perigosa das nossas vidas.
Aritmética é a prova de que a paixão é o oxigênio para que a vida seja possível. E que as concessões da vida adulta, apesar de serem vitais, podem nos destruir, pouco a poucos. É preciso encontrar a sua cura, mesmo que quem veja de fora não enxergue como cura.