Resenhas - A Invasão

Mary Maia 05/11/2021

Peça perfeita do Dias Gomes
Sou suspeita para falar sobre "A Invasão" do incrível Dias Gomes. Tenho muito carinho por esse texto, ele aborda assuntos muito importantes sobre classes sociais, sobre relacionamentos, desemprego etc. Vale muito a pena a leitura. ????

Jacques.Bourlegat 01/08/2021

A invasão
Dias Gomes traz mais uma vez um drama social sobre o acesso a moradia. A pobreza que está ligada a falta de oportunidades e a desigualdade que temos em nosso Brasil. Aqueles que se aproveitam da miséria dos outros e aqueles dispostos a fazer o que for preciso para sair dessa espiral de vida e morte implacável da nossa sociedade.
Essa peça foi escrita nos anos 60 e ainda é tão atual. Com parcelas grandes de cidades importantes tomadas pelo narcotráfico e pelos milicianos, que também tem suas falanges em partidos políticos. A população pobre é a que mais sofre.
Apesar de programas de acesso a moradia, o déficit habitacional ainda é um problema não solucionado e propício a muitas fraudes por parte desses grupos criminosos.
Em pano de fundo Gomes estabelece um vínculo dessa luta com a luta por direitos trabalhistas cujas vítimas costumam ser as mesmas, a população pobre que habita territórios dominados pelas facções criminosas.
Movimentos organizados desde os anos 60 vêm promovendo a redução da desigualdade e defendendo os direitos dos trabalhadores, principalmente para a população com menor capacidade de ação. Ainda que nos últimos anos esses direitos voltaram a ser ameaçados, é necessário ficar vigilante e reverter certas situações.
Não é simples. Mas o descaso pelas outras regiões no Brasil promoveu êxodos em massa para cidades maiores do sudeste, principalmente. Uma falta de gestão de sucessivos governos e o descaso pelo problema dos retirantes é também ponto a ser analisado nesta obra.
A discriminação, as ilusões perdidas, a violência e a fé ainda são elementos que pemeiam a obra.
Não ficamos insensíveis aos problemas, mesmo que nem sempre concordamos com as soluções propostas pelos personagens. Mas quando estamos em tal situação o que estaríamos dispostos a fazer para proteger a nossa família?

Leticia Garozi 23/03/2020

Livro em forma de Teatro, direta crítica a realidade habitacional brasileira, fácil e rápido de ler

Biblioteca Álvaro Guerra 08/05/2018

Na obra, Dias Gomes aborda o problema dos sem teto nos centros urbanos. Enfoca o proletariado urbano como massa onde não é possível a emergência do protagonismo ou a unidade de ação. A peça narra uma dessas invasões que se repetem até os dias de hoje.

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site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788528615739

ricardo_22 06/01/2016

Resenha para o blog Over Shock
A Invasão, Dias Gomes, 7ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Bertrand Brasil, 2015, 154 páginas.

Após uma enchente que destruiu seus barracos em uma favela, várias famílias são obrigadas a encontrar um novo lugar para morar e acabam invadindo o esqueleto de um prédio abandonado, onde querem recomeçar suas vidas, mesmo sabendo que a qualquer momento podem ser despejadas. Mas as promessas de políticos e a exploração de pessoas que visam seus próprios interesses pode colocar em xeque o recomeço ou mesmo moldar as atitudes de todos que estão em busca de melhores condições de vida.

“(...) Fizeram muito bem, invadindo esta construção, resolvendo por suas próprias mãos um problema que os homens públicos não querem resolver. Fizeram muito bem e aqui estou, não só para lhes dar o meu apoio, como também para assumir um compromisso solene. (Faz uma pausa de efeito). Se reeleito nas próximas eleições, comprometo-me a apresentar um projeto desapropriando este prédio e entregando-o aos seus heroicos conquistadores!” (pág. 83).

A Invasão não é uma peça teatral qualquer, porém não significa que seja de brilhantismo semelhante ao de outros trabalhos de Dias Gomes. E se é possível fazer uma comparação com O Santo Inquérito, por exemplo, só me vem na cabeça que em ambos os trabalhos o autor usa o poder da arte para falar sobre os mais necessitados, em épocas completamente distintas. Nada além disso.

E vale destacar que essa pode ser considerada uma obra atemporal, afinal, infelizmente, as décadas se passaram, mas muitas famílias ainda enfrentam situações semelhantes às de A Invasão. E não falo apenas de desastres naturais que destroem casas e deixam famílias inteiras desalojadas quase que diariamente Brasil a fora. O problema é muito mais complexo e talvez por isso a peça causou certa polêmica na época de seu lançamento — a peça chegou a ser proibida pelo AI-5 durante Ditadura Militar.

Isso porque a população carente sempre esteve nas mãos dos políticos e de suas promessas esfarrapadas que visam interesses que não são para o benefício do povo. Neste caso, enquanto as famílias retratadas tentam recomeçar a vida no esqueleto de um prédio abandonado, precisam torcer para que não sejam despejados, o que não os impede de sonhar. O problema é que são pessoas vulneráveis, ou seja, elas caem facilmente na lábia de terceiros — mais um detalhe que continua existindo até os dias de hoje.

Mas, diferente das duas peças lidas anteriormente, nem mesmo a importância de retratar este tema fez com que me envolvesse com a história. Como em outras situações, o grande número de personagens pode ter influenciado a falta de envolvimento e identificação com um ou outro, mas também em nenhum momento consegui visualizar a peça em si. Por ser uma proposta diferente, em que muitas coisas acontecem simultaneamente e da qual não estou acostumado, não encontrei nada que me atraísse; apenas me senti confuso do princípio ao fim.

site: http://www.overshockblog.com.br/2016/01/resenha-363-invasao.html

Renato Medeiros 25/09/2010

Um retrato de famílias sem-teto e sem futuro

Várias famílias faveladas fugidas de uma enchente em um morro do Rio de Janeiro invadem um prédio abandonado, causando divergências entre a polícia e seus membros, que ao permanecerem na construção, começam a alterá-lo instaurando modificações que melhorassem as suas vidas. Essa é a situação vivida pelos personagens de A Invasão, uma das mais significativas peças do teatro moderno brasileiro dos anos 1960.

Dias Gomes explora o problema daqueles que não tinham nem o direito à moradia, tema ainda bastante atual. São abordadas as mazelas de cidadãos pobres que mesmo vivendo sobre condições precárias, faziam questão de manter a honra, a moral e a dignidade, que muitas vezes precisavam abdicar em prol da sobrevivência, diante da fome que nessas circunstâncias causa desespero.

Além da fome e da moradia, outros temas são trabalhados no texto do autor, como a perseguição aos socialistas, realidade comum naquela época, o drama de meninas que para garantirem a alimentação precisavam se prostituir e a vida dos retirantes no Rio de Janeiro. Todavia, um dos aspectos mais notáveis que o autor desenvolve é a corrupção de policiais, que por muitas vezes dão proteção aos criminosos em troca de dinheiro, e de políticos, que prometem benefícios que não pretendem cumprir em troca de votos.

Com diálogos bem construídos, indo à raiz da situação e mostrando isso claramente, o autor expõe um dos maiores problemas do Brasil: a exclusão social, que mesmo após mais de quinhentos anos consolidada no país, está ainda muito longe de ter uma solução que a torne inexistente.