Insônia

Insônia Graciliano Ramos




Resenhas - Insônia


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@apilhadathay 29/10/2012

Deliciosamente inquietante
Insônia é um livro com 13 contos de Graciliano Ramos que traz, como personagem fiel e protagonista... a própria insônia! Esta vela a crise e as várias facetas do homem em situações distintas, dentro de um contexto psicológico e social, descortinando a vergonha do sistema e as fraquezas humanas. Basicamente.

"Sim ou não?
Esta pergunta surgiu-me de chofre no sono profundo e acordou-me.
Sim ou não?
Quem me está fazendo na sombra esta horrível pergunta?
Sim ou não?
Como entraram aqui estas palavras? Por onde entraram estas palavras?"

Existe um sopro de inquietude passeando aqui e ali, por cada conto, atingindo-nos como uma bofetada: o autor não quer fazer seu leitor se compadecer, simplesmente, mas alimentar em nós a consciência da realidade, de nossos pontos falhos e nossos momentos de covardia em determinadas situações... A eutanásia; os últimos momentos em uma sala de operações; uma criança que, de tanto ouvir que tinha parte com o Mau, acabou por desenvolver ações que condiziam com a fama; o que existe de belo e de trágico na infância, quando nos deixamos cativar.

Insônia retrata uma trama psicológica e começa por um questionamento simples... SIM OU NÃO? É como um thriller, criando expectativa em torno das perguntas que despertam o homem no meio da noite. Em um momento, Graciliano nos faz questionar as razões da insônia do próprio narrador. Tirou a vida de alguém ou a razão de esse alguém viver? Está apenas louco? Sente medo? Possui um trauma? Está apenas sonhando? Será uma saudade ou arrependimento? Uma preocupação ou apenas excesso de café na noite anterior? Disse palavras duras a alguém que não merecia ouvi-las? Foi injusto com alguém? Terá invadido um lugar e teme ser perseguido? Já foi segurança ou vigia, já se feriu ou quase morreu e não consegue mais ter paz à noite? Está escondido de uma ameaça? Está fugindo? Nenhuma das alternativas? A minha imaginação voou durante alguns contos, e até depois.

Entramos na experiência de alguém que tentou roubar com pouca experiência no assunto – a bem da verdade, despertei no meio da noite, depois de ler o segundo conto; a investida terminou como era de se esperar. O interessante é o conflito de princípios que se desenrolam na cabeça de um bandido dividido entre a necessidade e a possível punição divina. A experiência mental se torna mais forte com a passagem pelo hospital, onde o cidadão fica obcecado com o relógio e a passagem do tempo, e observa todo o resto com um pouco de tédio. Um dos meus contos favoritos.

Insônia, na verdade, torna-se uma metáfora para Abrir os Olhos - você não consegue dormir, então qual a alternativa, sentar no escuro e fumar até se unirem as pestanas, ou observar o mundo e os problemas em sua forma mais crua, sombria e verdadeira – como as sombras, que só se movem na calada da noite? Em dado momento, o autor mostra a sua pouca esperança na recuperação do sistema, mas não sem uma total reconstrução, uma reconfiguração social extrema, chegando a conclusões absurdas do ponto de vista humano.

"Seria bom que as cadeias se enchessem e abarrotassem, até não haver cá fora nenhuma semente ruim (....) D. Aurora achava natural o despovoamento do país. Antes isso que aceitar misturas perigosas e corrutoras. Apesar de muito corte e muito estrago, ainda sobrariam muitos elementos sãos, que se multiplicariam. D. Aurora desejava uma nova humanidade, pensava nela com ternura, enquanto odiava furiosa adversários e neutros."

Ele utiliza uma incrível abordagem psico-social, ao mostrar as várias faces que mostramos ao mundo e o constante uso que fazemos da mais prejudicial, algo que curiosamente me lembrou o professor Dumbledore quando diz que "os seres humanos têm o condão de escolher o que é pior para eles"; a frieza, a hipocrisia, a ética que surge nos momentos menos esperados; os extremos a que o amor nos leva; os nossos instintos mais primitivos.

Percebemos também o adorável regionalismo [não me canso das particularidades da nossa língua] no modo de falar dos personagens, e a preocupação do autor com a localidade, o ruralismo e as cnvenções: Graciliano brinca com a tendência humana a um comportamento embaraçoso quando nos deparamos com velhos conhecidos que se tornaram poderosos; também mostra a crueldade que existe no julgamento por aparências. Outro conto que me conquistou.

Honestamente? A nota três é só por causa do número de pausas que precisei fazer para consultar o dicionário e porque, em alguns momentos, a leitura fica lenta, é preciso fechar os olhos e pensar um pouco ao fim de cada conto [o que, no fim das contas, é algo bom]. É um livro que requer muita paciência, se você quer compreender o que o autor quis dizer... Mas vale a pena, no fim.
Dressa Lopes 06/01/2017minha estante
muto boa sua resenha, gostei,parabéns!


Flavia 08/09/2018minha estante
Amei a resenha! Parabéns!




Pseudokane3 07/09/2010

'Ipsis literis' (invertido) de mim mesmo:
"Pura coincidência este livro fabuloso de contos alagoanos ter parado em minhas mãos no dia do ano de 2010 em que eu mais dormi. Não no sentido consecutivo, mas quantitativamente intermitente. Senti fortes dores de cabeça o dia inteiro, febre alta e aftas carcomiam a parte interna e inferior de meus lábios. Dormindo, eu esquecia estes males. Dormindo, eu não ouvia os gritos e fogos de artifício durante um jogo de futebol vespertino. Dormindo, eu era privado..."!

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franchu 23/03/2010

=)
Tem contos que eu achei bons demais, outros que nem entendi direito... mas gostei de ler esse livro !
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