Memórias de Marta

Memórias de Marta Júlia Lopes de Almeida




Resenhas - Memórias de Marta


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Suemi.Oliveira 18/11/2020

Memórias de Marta - Júlia Lopes de Almeida
A história de passa na cidade do Rio de Janeiro, durante o século XIX. Após o falecimento de seu pai, Marta e a mãe, com parcos recursos financeiros, se mudam para um cortiço, o qual é caracterizado pela insalubridade e pobreza.

A mãe de Marta – “Marta mãe” – trabalha como engomadeira para sustentar a ambas, o que significa debruçar-se por horas a fio sobre as roupas das mulheres da elite e deixá-las impecáveis para o uso futuro.

Marta, ainda criança, começa a se frustrar consigo mesma e com suas condições de vida. Ela julga a si mesma feia e desprovida de qualquer graça, incapaz de despertar o interesse sincero de alguém, impressões que nem mesmo os vestidos obtidos com tanto esforço por sua mãe são capazes de aplacar.

À medida em que a personagem cresce e se vê inserida em meio à miséria, penúria, escassez e desesperança, surge a oportunidade de dedicar-se aos estudos, não só para a sua própria educação, como também para fazer do ensino a sua profissão.

D. Aninha, mestre e benfeitora, nutre um carinho especial pela aluna e a auxilia em todos os aspectos possíveis. É graças a ela que Marta se torna professora assistente, o que lhe permite, ainda que com certo sacrifício, providenciar uma moradia melhor, sempre na companhia da mãe, cuja saúde e vitalidade se esvaem com notória rapidez.

É na companhia de D. Aninha que Marta vivencia os eventos marcantes de sua juventude: a primeira festa, a primeira viagem, o primeiro amor... paralelamente, é na companhia da mãe que Marta se vê acorrentada à sua triste realidade, presente e futura, tanto pelo fato de ser mulher quanto pelas restrições acarretadas pela desigualdade social. Todos os eventos ficam marcados na memória da protagonista, que os relata após já ter alcançado a fase adulta.

Nossas Martas encaram a fome, a precariedade, a morte e a miséria tão de perto quanto nenhuma pessoa deveria encarar. Ao redor, a situação não é promissora: seus conhecidos vivenciam outras mazelas, tão esmorecedoras quanto as suas. Porém, apesar da dura trajetória, mãe e filha encontram certa dose de conforto no amor que sentem uma pela outra.

O final talvez possa ser considerado feliz, a depender do olhar o leitor, consideradas as circunstâncias apresentadas; todavia, esse não era o intuito da autora. A mensagem é clara: visa incentivar o estudo como ferramenta de liberdade e independência para as mulheres, sobretudo como forma de escapar às desgraças que Marta, representando muitas de nós, conhece ainda criança, seja por meio de sua própria história, seja pela história daqueles que a cercam. Independente de qual for a expectativa ao iniciar a leitura, saiba que ela será superada. A escrita, o enredo e a descrição dos sentimentos da personagem proporcionam uma imersão em suas memórias – mais do que isso, em sua alma e em seu coração –, tornando impossível não se identificar, em algum momento, com as experiências e as angústias vivenciadas pela jovem.

A escolha pela obra de Júlia Lopes de Almeida foi pensada para resgatar o trabalho da escritora brasileira, injustamente relegada ao esquecimento, e para inaugurar o selo Inspirium, pertencente à Delirium Editora, voltado exclusivamente a publicar mulheres. A edição é ilustrada e conta com textos de apoio para auxiliar na compreensão sobre os fatos narrados e a trajetória da autora. Alguns termos empregados à época da publicação original são considerados racistas e foram substituídos pelos vocábulos adequados, seguidos por notas de rodapé explicativas. É, sem dúvidas, um livro que vale a pena adquirir.

“Com que orgulho eu penso na desvelada solicitude que tem em geral a mulher brasileira para o filho amado! Não o repudia nunca, trabalha ou morre por ele; coração cheio de amor, perdoemos-lhe os erros da educação que lhe transmite, e abençoemo-la pelo que ama e pelo que padece.” (pp. 110-111)
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Maíra Marques | @literamai 11/04/2020

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"Por que não teria eu igual direito a possuir tudo, igual a Lucinda, sem pedir ou aceitar esmolas? E por que me fazia tão mal essa palavra, a mim, que nada conhecia do mundo?"

Essa é uma obra antiga, porém muito atual.

Marta perde o pai ainda muito pequena, lembra-se apenas se não querer beijá-lo no caixão, contudo não guarda lembranças bonitas com ela. Era como se sua morte não fizesse diferença em sua vida. Após a perda, ela e a mãe tiveram que se mudar para um cortiço, pois o dinheiro ficara escasso e o pouco que a mãe ganhava trabalhando de engomadeira mal dava para comprar comida.

Nossa narradora nos mostra como sua vida fora modificada, todos os males que passou ao lado da mãe até que crescesse. Tudo o que desejava era conseguir dar uma condição de vida melhor para a mãe. É uma obra que nos arranca lágrimas e nos remete a refletir sobre a sociedade e sua cruel realidade.

Originalmente escrita em 1888, já podemos ter uma ideia da realidade que nos aguarda nessa história. Marta viu de perto a pobreza e sentiu inveja de quem tinha uma vida melhor, ou que parecia ser assim. Todos os personagens apresentados tem o papel fundamental de fazer com que o leitor reflita se a sociedade atual mudou ou se ainda vivemos daquela forma. Em poucas páginas essa autora tão fenomenal te faz conhecer uma verdade nua e cruel da realidade.

Mantenha a calma! O ponto forte da história é o relacionamento entre mãe e filha! Apesar da narrativa de Marta, é sua mãe quem ganha todo o destaque. Que mulher forte! Jamais desistiu até ter certeza que a filha ficaria bem e segura. Qual é o teu relacionamento com a sua mãe?

Essa história está em Domínio Público e o diferencial do livro é que a @cami_pelegrini juntamente de toda a equipe da @ed_delirium realizaram um trabalho incrível na edição, trazendo uma seleção fotografias da época, textos com curiosidades sobre a autora e sua obra, e uma nova revisão do texto que- preservando a obra originalmente escrita- modifica palavras que nos tempos de hoje nos remetem a termos racistas.

"Mulheres grandes se tornam ainda maiores quando são uma pela outra."

site: https://www.instagram.com/literamai
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Belly 26/05/2024

Naturalista?
A obra é narrada por Marta, uma mulher já adulta que revive o seu passado em tom memorialista. Sua infância é passada em um cortiço. Sendo que, sempre vê sua amada mãe sempre trabalhando e engomando.
Ao longo da história percebemos o papel do determinismo na obra e o esforço da mãe de Marta para que sua filha tenha uma vida melhor.
Linaaaaa 27/05/2024minha estante
E a atualização???




@sabri.eoslivros 27/03/2020

Até hoje, havia o relato de três edições desta obra, que foi publicada primeiramente na seção Folhetim da Tribuna Liberal do Rio de Janeiro entre 1888-89. Já em 1899, houve a publicação pela Casa Durski de Sorocaba e, entre 1925-32, pela Livraria Francesa e Estrangeira Truchy-Leroy (Paris). Agora a Editora Delirium traz-nos este presente, como uma linda e significativa inauguração de seu selo Inspirium, voltado a obras escritas por/para mulheres.
Trata-se este de um romance autobiográfico ficcional de uma jovem, que narra também a história de sua mãe, ambas com o mesmo nome: Marta. Podemos acompanhar a vida dessas mulheres, desde que a filha era uma criança, até atingir sua idade adulta. A vida levada em um cortiço carioca, a dificuldade em (sobre)viver, inclusive pela ausência do pai (falecido enquanto ela ainda era uma garotinha), até uma leve melhora de vida, com a mudança para outra região e o título de professora. As desilusões amorosas... O laço entre mãe e filha.
Leitor(a), não espere uma leitura divertida e alegre. Com uma linguagem própria da época (e, com isso, racista em muitos pontos, infelizmente), espere por reflexões acerca do papel feminino em uma sociedade absurdamente machista, em que o casamento era o único escape para a mulher ser de fato vista e respeitada. É uma leitura dolorida. Mas necessária. Que não deixemos a voz de Júlia Lopes de Almeida se perder nos meandros da contemporaneidade. Jamais.
Destaque: a Editora Delirium caprichou nessa edição, um livro materialmente de muita qualidade, diagramação impecável com o bônus das fotos históricas de um Rio de Janeiro antigo. Além do mais, lembram o que falei sobre a linguagem racista? Bem, a editora soube muito bem como contornar isso. Leiam e se surpreendam com a qualidade desse trabalho e a delicadeza da edição, fechando uma obra-prima com Júlia Lopes de Almeida.
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Carolina1935 05/05/2020

A vida, a pobreza e o relacionamento mãe e filha
"Memórias de Marta" é o primeiro lançamento do selo Inspiriun - Sobre Mulheres Inspiradoras, que tem a proposta de publicar narrativas escritas por mulheres que contem a história de mulheres. Como seu ponta pé inicial, a editora apostou em resgatar um clássico da Literatura Brasileira, de uma autora pouco conhecida. A mesma, que foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, mas a quem não foi oferecida uma cadeira, simplesmente por ser uma mulher.

Vamos conhecer então a trajetória de duas mulheres: Marta mãe e Marta filha. As duas que, após a perda do marido e pai, tiveram de ir morar num cortiço, onde conheceram bem de perto a pobreza e o sofrimento humano. Através das descrições da autora e da edição do livro, que conta com belíssimas fotografias, vamos ser transportados para esse período histórico, e conseguimos nos por na pele da personagem e sua mãe. Mesmo com uma escrita mais rebuscada, a autora consegue construir uma narrativa envolvente, o que fazia com que, em alguns momentos, eu tivesse que me.lembrar de que tudo aquilo era ficção. Isso porque a pobreza e a vergonha da filha, o trabalho árduo da mãe, a tragédia vivida por seus "vizinhos" no cortiço, são coisas que, por mais que não façam parte do nosso tempo, tem um "quê" de real.

Todo o livro é contado pelo ponto de vista da filha, o que faz com que tenhamos uma visão somente "externa" da mãe. Mas é praticamente impossível não se afeiçoar a essa última, visto todo o esforço que ela faz por querer o melhor para sua filha, vivendo uma vida de quase devoção a mesma, tentando dar uma vida digna a ela.

"Memórias de Marta" é, como o próprio nome diz, um livro de memórias. É a história de um relacionamento mãe e filha. É o retrato de uma época de grandes dificuldades (e será que estamos tão longe assim dela?). E não menos importante, é uma historia que retrata o poder transformador da educação (sobretudo a educação feminina).
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Maria.Bandeira 16/04/2023

Muito boa leitura
Memória de Marta foi o primeiro romance de Júlia Lopes de Almeida, publicado em 1888. A autora nasceu em 1862, no Rio de Janeiro, mas passou boa parte de sua infância em Campinas, São Paulo. Iniciou sua carreira como escritora no jornal El País onde permaneceu por mais de trinta anos, escrevendo sobre diversos temas. Mudou-se para Lisboa em 1886 onde iniciou sua carreira literária, com mais de quarenta volumes entre contos, romances, crônicas e outros gêneros. Faleceu em 1934, na Cidade do Rio de Janeiro. Quis fazer uma breve nota sobre a autora por achá-la excelente e por ser injustiçada, a meu ver, pelo fato de ser tão pouco conhecida por nós brasileiros. Esse romance nos conta a história de Marta, quando ainda criança, vivendo em um cortiço no Rio de Janeiro após o falecimento de seu pai, forçando sua mãe, a trabalhar como engomadeira a fim de sustentar a si e à sua filha. O dinheiro recebido por esses serviços era escasso, razão pela qual elas são obrigadas a morar no tal do cortiço por um longo período. A menina tem aversão pelo lugar, pois além de ser um lugar pouco iluminado ainda tem a questão de ser fético, muito úmido e próximo a um matadouro. Ela sonha um dia ir embora dali. O sonho de Marta se resume em quando crescer poder alugar uma casa e sair do cortiço. O tempo passa, ela se dedica aos estudos e consegue se formar professora. Começa trabalhando como professora adjunta mas depois de prestar um concurso público ela passa a ser a professora titular. Então consegue alugar uma pequena casa e sair daquele lugar o qual tinha tanto asco, além da humilhação da pobreza sentida por ela durante toda sua vida até então. Em uma das férias escolares, ela viaja com uma família amiga e conhece um rapaz pelo qual se apaixona mas não foi correspondida, o que lhe trouxe muito sofrimento. A leitura é bem fluida, o relato da autora bem objetivo e rapidamente nos envolvemos no drama de Marta em busca de melhores condições financeiras não só para si como também para sua tão querida e sofrida mãe. O tem 144 páginas que devorei em um só dia. Vale a pena a leitura, lembrando que, sempre que pudermos devemos prestigiar autores nacionais.
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elainegomes 13/03/2024

Para perceber o tamanho da obra, é preciso contextualizar o tempo, este livro foi escrito em 1888, em uma época que a mulher não tinha liberdade, não fazia escolhas, não tinha poder de decisão sobre seu destino, seu futuro.

Júlia Lopes de Almeida, nasceu em 1862, ousou, rompeu barreiras e se tornou uma importante voz da literatura brasileira. Foi uma das idealizadora da Academia Brasileira de Letras, mas nunca pode ocupar sua merecida cadeira - POR SER MULHER!

E Júlia é mais uma vez corajosa por escolher como tema de seus livros o protagonismo feminino, suas personagens são fortes, que lutam por sua voz, por liberdade, por independência em uma sociedade claramente patriarcal e machista.

Em Memoriais de Marta, essa luta pela emancipação feminina acontece por meio da reivindicação da educação da mulher, em oposição ao casamento sem amor.

?A reputação da mulher é essencialmente melindrosa. Como o cristal puro, o mínimo sopro a enturva??

Uma curiosidade: achei a descrição do cortiço de onde viveu Marta e sua mãe, muito semelhante (poderia até dizer idêntico) ao cortiço de Aluísio de Azevedo, impossível ler um, sem lembrar do outro. Aluísio teria se inspirado em Júlia?! Quem já leu teve a mesma impressão?j
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Talita 15/05/2021

Uma leitura simplesmente incrível!
"Minha mãe raras vezes falava do passado. Fugia de referir -se ao seu tempo de fugitiva alegria. Nunca atingi com a razão disso. Sentia-me curiosa, mas sem coragem de evocar lembranças que a pudessem magoar."
?????????????
Memórias de Marta nada mais é do que o título sugere. Memórias da personagem sobre sua infância difícil, onde Marta e sua mãe buscam por uma vida melhor, com seus sonhos frustrados mas sem nunca desistir, até sua vida adulta, com um casamento arranjado pela mãe, até a morte da mesma.

Um livro onde mostra o poder feminino em uma época totalmente machista, onde a protagonista não deseja casar, se não por amor
????????????????
"Amei o Amor e chorei lágrimas que me queimavam o resto e torturavam a alma. Amei o Amor e o Amor desprezou-me e fez -me envergonhada de mim mesma..."
???????????????????????? O livro é repleto de fotografias da época, nos ajudando à dar asas a imaginação. Imaginei o cortiço onde Marta e sua mãe moravam, crianças, vizinhos e confusões. Imaginei uma jovem triste, onde tudo que queria era uma beleza comum da época e um amor correspondido. ????????????????????????
O livro também possui notas dos editores da casa, onde conhecemos mais sobre a autora, que teve sua cadeira negada à ABL, apenas por ser mulher. ????????????????????????
Enfim, uma leitura um tanto quanto triste mas incrívelmente profunda, tocante. Deixou-me com sentimento de nostalgia, me despertando empatia por uma época onde tudo era tão difícil. Onde o amor de mãe de Marta me fez enxergar o meu pelos meus filhos, onde eu faria tudo por eles, como a mesma fez por sua filha, que apesar de pouco, era com muito esforço, dignidade e repleto de amor.
????????????????????????
"Mulheres grandes se tornam ainda maiores quando são uma pela outra."
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Linaaaaa 13/05/2024

Triste realidade
Este livro retrata a realidade das pessoas que vivam nos cortiços naquela época. As esperanças, desejos, os pensamentos. Por mais que seja um romance naturalista, é possível sentir, sim, a emoção. Principalmente a de tristeza. A leitura pode não ser tão fluída por conta da linguagem, mas nada que não possa ser contornado. Gostei da história, mas não sei se leria novamente... Não é meu estilo de leitura
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