Everton Gonçalves 26/05/2021
Últimos Poemas de Pablo Neruda foi o livro concluído no leito de morte do autor em setembro de 1973. Traz como subtítulo “O mar e os sinos” e é marcado por uma reflexão onde se pode perceber a presença da morte que se aproxima, mesmo sem se decair numa falta de esperança, ainda que haja em alguns poemas certa melancolia. Alguns poemas são dedicados a sua amada Matilde.
Seguem alguns versos que mais gostei:
Quando eu decidi ficar límpido
e buscar corpo a corpo a infelicidade
para jogar os dados,
encontrei a mulher que me acompanha
a torto e direito na noite
na nuvem e no silêncio. (Quando eu decidi... p.29)
Todos caminham com preposições,
advérbios, substantivos
que se antecipam nos armazéns,
nas corporações, na rua.
Nos chamam pelo telefone
com urgência
para notificar-nos que ficou proibido
ser feliz. (Pedro é o qhando… p.61-62)
Assim cada manhã de minha vida
trago do sonho outro sonho (Não há muito que contar… p.71)
Todos me perguntavam quando parto,
quando me vou.
Ir-se de qualquer modo a alguma parte
ainda que não quisesse ir a nenhum lugar. (Todos me perguntavam… p.95)
Por que buscar em vão
em cada porta em que não existiremos
porque não chegamos ainda? (Todos. p.113)
Que artes temos para o extermínio
e que ciência para extirpar lembranças!
Está florido o que foi sangrento.
Preparar-se, rapazes,
para outra vez matar, morrer de novo,
e cobrir com flores o sangue. (Foi sangrenta… p.133)
Não quero falar por um largo tempo,
silêncio, quero aprender ainda,
quero saber se existo. (Aí está o mar? p.137)
Foi tão belo viver
quando vivias! (Final. p.139)