Cê 12/09/2013
HISTÓRIA MARAVILHOSA
Só de ler as primeiras páginas, já sabia que daria cinco estrelas a este livro. E, quanto mais eu lia, mais gostava da história. O livro é daqueles que a gente fica louca para saber o final, mas terrivelmente triste, quando acaba, com aquele gostinho de querer mais. E eu soube disso tudo logo nas primeiras páginas. Isabel Allende tem este dom, em minha opinião, sua escrita é deliciosa, envolvente, simplesmente perfeita.
A história também é muito interessante. Acho que a autora mistura ficção com a realidade. Apesar de não conhecer como se deu a colonização do Haiti pela França, (no início chamada Saint-Domingue), aqui tudo é retratado da maneira mais fielmente possível: grandes fazendeiros, tráficos de escravos, exploração, castigos cruéis, fabricação do açúcar... Brasileira que sou, foi fácil identificar alguns aspectos com a colonização do meu próprio país.
E, neste cenário de tantas contradições, entre senhores e escravos, riqueza e miséria, somos levados ao mundo de Zarité, uma escrava que acabou sendo a escolhida de Madame Viollete Boisier, para servir a casa do poderoso Toulouse Valmorian, um típico grande fazendeiro, com uma típica grande fortuna. Valmorian acaba se casando com a espanhola Eugenia García Del Solar. E Zarité passa a ser responsável pelas tarefas domésticas da casa, escapando da senzala e dos sofrimentos enfrentados pelos outros escravos responsáveis pela produção do açúcar.
Muito interessante a narrativa: quase todos os capítulos em terceira pessoa entremeados com alguns poucos em primeira pessoa, com a narração e visão da própria Zarité. Os personagens também merecem destaque: são construídos de uma maneira bastante densa, cheios de contradições, como a própria natureza humana.
Após alguns incidentes na ilha, incluindo guerras, rebeliões, mortes, vingança e sangue, muitas famílias fogem da ilha, inclusive a de Valmorian. Eles partem para a região da Luisiana, que era colonizada pela França. Aqui, o rico fazendeiro retoma a plantação de açúcar, em sociedade com o irmão de sua falecida esposa, Sancho. E alguns personagens acabam se reencontrando, numa sociedade ainda marcada pela escravidão, mas já apontando para o surgimento da classe média.
“A Ilha sob o mar” foi um dos melhores livros que li da autora Isabel Allende. A história me envolveu desde o princípio e eu tive um imenso prazer em deliciar cada página, saboreando cada palavra.